segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

do brasil e do porquê este país não pensa em ciência

Estava conversando ontem com um amigo e refletindo (pela enésima vez) o quão desmotivador é pensar em ciência no Brasil. Adianto desde já que esse post vai soar, como muitos outros que já postei via Facebook, arrogante, narcisista e utópico. E é tudo mesmo. Adianto ainda que esse post tem um caráter mais pessoal que os demais posts do blog - peço desculpas por isso, mas creio que precisava ressuscitar este espaço. Enfim... vamos lá.

Falando especificamente de Matemática, área que amo e sempre amei, historicamente há três grandes escolas onde algo como 90% de tudo que é Matemática "básica" (entenda-se "o que eu sei que existe, embora muitas vezes não faça ideia do que seja") saiu: Inglaterra, Alemanha e França. Estados Unidos e  Japão também têm vertentes muito fortes, mas geralmente isso se dá por terem trazido profissionais brilhantes de outros países que incentivaram o estudo da disciplina e não por algo, digamos, "nato" do país em questão. Focarei nos três países europeus então.

Quando você entra no curso de graduação (comigo foi assim e com muitos dos meus colegas tenho certeza que também foi), você entra com planos surreais, de querer ter ao menos um pedacinho da grandiosa história da disciplina associada ao seu nome. Afinal, somos mortais, mas nosso nome é eterno. E pra isso você precisa buscar motivação. No Brasil, se busca motivação de onde?

Um ponto relevante é o tal "abrir a porta". Citei Inglaterra, Alemanha e França como exemplos de terras onde matemáticos brilhantes nasceram em diversos pontos da história... um inglês, um alemão ou um francês recém ingressos num curso de Matemática podem entrar numa Cambridge, numa Göttingen ou numa ENS Paris e andarem pelos mesmos corredores que Newton, Gauss e Galois (respectivamente) andaram. Um brasileiro com o mínimo possível de pretensão teria uma porta gigantesca pra abrir - embora tenhamos nomes como Ubiratan D'Ambrósio na Etnomatemática e o recém laureado com a medalha Fields Arthur Ávila, são nomes ainda escassos.

Outro ponto relevante é a estrutura das universidades brasileiras. Posso estar comprando briga com muita gente por isso (não é minha intenção, é apenas minha opinião), mas a universidade pública não precisa ser caminho de passagem pra todos, muito menos pra uma parcela supostamente prejudicada no sistema de vestibular; tem é que formar excelentes profissionais do mais alto nível - e se isso puder se associar com esse igualitarismo, melhor ainda. Números são números, no fim das contas. Não importa se você forma 20 mil ou 20 milhões de graduados por ano, o que os livros de história registram são nomes como Newton, Gauss e Galois. Mas mais do que esse elitismo, o governo brasileiro precisa efetivamente investir em educação, e não maquiar toneladas de dinheiro gastas em programas faraônicos que não dão nenhum retorno - que não o político, que lhe ajudará a garantir uma reeleição, ciclo ao qual estamos submetidos desde a redemocratização do país, infelizmente.

Finalmente, atento para o ponto cultural. Brasileiro tem um hábito terrível: o de se sentir inferior e de desmotivar os poucos que pensam diferente. (O brasileiro na verdade tem o hábito de pensar demais na vida alheia, mas essa é uma outra história...) Há uma charge interessante que já vi algumas vezes pela internet: se ninguém fez alguma coisa, seja ela qual seja, o brasileiro médio costuma pensar "se ninguém fez, por que eu o faria?"; outras culturas (a charge cita a oriental) costumam pensar "se ninguém fez, talvez eu possa". Ambição é fundamental; o brilho nos olhos é fundamental. Prevejo gente que leia esse texto e pense "esse cara de novo pensando que ele é algo muito além do que eu sou"... e de fato, não sou (não me considero assim ao menos). O perigo é considerar que ninguém seja assim. O perigo está em pensarmos que não haja um Newton, um Gauss ou um Galois que seja nosso amigo, nosso vizinho, quem sabe até nosso parente, e a gente nunca deu a devida motivação para que ele pudesse crescer, transpor seus sonhos em realidade.

A chave para a mudança não é assim tão utópica. Difícil? Sem dúvidas. Mas começa por você. Abra sua mente e pare de pensar que você não é capaz. Se você não é, quem o seria?