sexta-feira, 22 de novembro de 2013

espiral do silêncio, memética e o pensamento coletivo

"O homem é um ser social". Aristóteles não poderia estar mais certo ao postular tal frase: o ser humano sente-se na necessidade, quase tão vital quanto os batimentos cardíacos ou a respiração, de encontrar-se em um meio no qual seja aceito segundo sua linha de pensamento. Obviamente, há exceções, e os casos de misantropia estão aí para provar. Mas para todo o restante da população mundial, viver em comunidade é um ato de sobrevivência. No entanto, a sociedade reprime, marginaliza e, em casos mais severos, oprime violentamente ideias e gostos que vão contra a maioria, e alguns destes grupos excluídos, satisfazendo seu desejo de interação, passam a adequar-se, em alguns casos quase que involuntariamente, à cultura do opressor.

A psicóloga alemã Elizabeth Noelle-Neumann propôs a teoria da Espiral do Silêncio em meados de 1975 para compreender tal comportamento. As eleições em território alemão compreendidas entre 1965 e 1972 foram minuciosamente analisadas por Noelle-Neumann. O que ela notou é que as campanhas eleitorais e sua respectiva divulgação influenciavam boa parte da população a mudar de ideia. Adeptos e simpatizantes das propostas de um dado candidato muitas vezes mudavam de ideologia, buscando aproximar-se de opiniões que eles julgassem dominantes. O que Noelle-Neumann propôs com tal teoria, a rigor, é que as pessoas que têm um ponto de vista minoritário em relação a outros pontos de vista majoritários tendem a calar-se ou cair no conformismo, perante a opinião pública geral. Em outras palavras, tais pessoas tendem a ficar silenciados e a conciliar suas opiniões com as do público.

Muitos de vocês talvez já tenham encarado, e provavelmente ainda encaram, situações desse tipo. O pensamento coletivo prolifera-se na sociedade, enfaticamente na sociedade brasileira, como um vírus. É praticamente consenso entre os psicólogos que estudam a Espiral do Silêncio: são os jovens os mais influenciáveis, haja visto que suas opiniões não são tão dependentes quanto as de uma criança nem tão consolidadas quanto de um adulto. E grande parte desse fenômeno intrigante tem um fator que pode ser caracterizado como o principal: a mídia. Os meios de comunicação atuais disseminam de tal forma certos modos, sejam eles modos de se vestir, de falar ou de ouvir música, que a sociedade como um todo acaba se inserindo nessa realidade, digamos, alheia a ela própria. Se preferir chamar assim, "modinha". Outros fatores que têm influenciado bastante o pensamento coletivo a uma homogeneidade são as redes sociais, que crescem em seu uso de forma vertiginosa desde o início do século. A interação através das redes sociais têm tornado certos tipos adeptos de modos semelhantes de vestir, falar e agir - mas, principalmente, interagir.

O biólogo evolutivo e geneticista Richard Dawkins, em seu best-seller O Gene Egoísta, introduz o estudo da memética - em síntese, um meme é qualquer ideia difundida entre dois ou mais indivíduos que, de certa forma, replica suas respectivas formas de pensar e as aproximam. Dawkins, famoso por seu ateísmo fervoroso, define os memes como uma unidade de informação cerebral, tal qual um gene é uma unidade de informação genética; a diferença básica é que, enquanto os genes se replicam através da reprodução sexuada, os memes (do grego μιμἐομαι, "imitar") se replicam pela disseminação de ideias entre os indivíduos. (Não confundir com os famosos memes da internet - que, aliás, são tipos de memes segundo o conceito de Dawkins.)

Os trabalhos de Noelle-Neumann e Dawkins são apenas alguns dos trabalhos na área de psicologia social que podem ser aplicados a uma escala macro. Burrhus F. Skinner, em sua teoria behaviorista do início do século XX, já havia proposto que o cérebro associa o sistema de recompensa a estímulos externos recorrentes. Talvez a Espiral do Silêncio e a Memética corroborem com a ideia de que a sociedade age como um grande cérebro escravo do behaviorismo: estímulos externos agem primeiro sobre a sociedade, por si só, e esta por sua vez influencia cada um de seus indivíduos através dos memes - como uma grande teia, onde todos os pontos estão interligados entre si de forma tão estrita que o movimento de um só desses pontos pode influenciar o comportamento de toda a rede.