domingo, 2 de junho de 2013

yes em são paulo - 23/05/2013

O Yes consolidou-se ao longo dos anos como uma das gigantes do gênero que se convém chamar de rock progressivo. Ao lado de Pink Floyd e King Crimson, foi provavelmente a primeira banda a compor seguindo o modelo prog em seu debut de 1969, self-titled. No mês de maio, o Yes fez sua turnê pela América do Sul: começou por Lima, no Peru (16), passou por Brasília (19), Curitiba (21), São Paulo (23 e 24), Rio de Janeiro (25), Porto Alegre (26), Santiago, no Chile (28) e, finalmente, Buenos Aires, Argentina (30). A tour é a Three Album Tour, na qual o Yes toca três de seus maiores clássicos na íntegra: The Yes Album (1971), Close to the Edge (1972) e Going for the One (1977).

A formação atual conta com os veteranos Chris Squire, no baixo e na gaita (o único membro a tocar em todos os registros de estúdio da banda), Steve Howe, na guitarra, slide guitar e violão (o único além de Squire a estar em todos os três registros no estúdio), Alan White, na bateria e percussão, e Geoff Downes no teclado, órgão e piano. O vocalista é o multi-instrumentista Jon Davison que, além de xará do lendário Jon Anderson, tem um timbre de voz impressionantemente semelhante a este último - os membros do Yes o conheceram através de sua banda cover do próprio Yes, chamado Roundabout, e o convidaram para substituir o canadense Benoît David.

O show de abertura para aquele que foi o primeiro show do Yes em São Paulo, no dia 23, foi da banda curitibana de rock prog Seven Side Diamond. A banda é uma grata surpresa para quem, como eu, imaginava que não haveriam bandas progressivas no Brasil com a qualidade do prog estrangeiro. O show, apesar de curto, animou bastante a plateia, e os músicos foram extremamente receptivos e simpáticos após o fim de sua apresentação.

Depois de um intervalo de aproximadamente meia hora, começa a tocar a peça de Igor Stravinsky, The Firebird Suite, com o telão mostrando uma sequência de imagens referentes aos álbuns que seriam executados e, obviamente, imagens da própria banda. Começava ali o show do Yes: a banda entra no palco, faz uma breve saudação ao público e executa a primeira e mais longa música do setlist: Close to the Edge, faixa de abertura do disco homônimo. Há de se destacar aqui o trabalho vocal impecável de Jon Davison, acompanhado dos backing vocals de Chris Squire e Steve Howe. Segue-se o disco tocado na íntegra, com a lindíssima And You and I e seus quase 11 minutos de duração. Para fechar o primeiro disco da noite, a animada e virtuosa Siberian Khatru. Os primeiros quarenta minutos do espetáculo haviam se passado como se fossem cinco. Davison saúda a plateia com um português impecável, longe dos tradicionais "obrigado" e "boa noite" que a maioria das bandas traz às terras tupiniquins.

As luzes voltam sob a introdução nas guitarras de Howe da faixa-título do segundo disco a ser executado na noite: Going for the One é uma música bem menos bucólica que as melodias do disco anterior e com certeza foi um dos pontos altos do show. O clima é novamente quebrado com a excepcional Turn of the Century, com uma letra fantástica e pautada sobre a excelente interpretação de Davison; ninguém naquela noite sentiu-se saudoso aos anos de Jon Anderson no Yes. A introdução de teclado de Downes dá início a Parallels, uma música que se caracteriza pelo baixo marcante de Squire, sempre cirúrgico em sua performance. Segue-se a ela a belíssima Wonderous Stories, mais uma vez marcada pelos vocais de Davison (que pela primeira vez no show assume também os violões). Fechando o segundo disco da noite, a música que o ex-tecladista da banda, Rick Wakeman, traduziu como uma de suas composições mais belas: Awaken é uma música impactante, com um toque angelical particularmente seu, certamente um dos momentos mais inspirados da discografia do Yes. O segundo disco fecha-se, mais uma vez, com os cumprimentos de Davison à plateia, sempre em português, e com a apresentação da banda por Steve Howe.

As batidas secas na caixa da bateria de White (baterista que integrou a banda na turnê do Close to the Edge, em 1972, e está na banda desde então) indicam que é dado início à primeira música do terceiro disco da noite: Yours is no Disgrace, do The Yes Album, uma faixa de letra e instrumental equivalentemente envolventes. Howe apronta seu violão; é dada a hora de seu número solo, Clap, acompanhado pelas palmas de uma plateia extremamente entusiasmada. O show segue com duas das músicas mais icônicas da banda: Starship Trooper, uma suíte de três partes caracterizada por dois solos de Steve Howe (Desillusion e Würm), e I've Seen All Good People, a primeira música do Yes a atingir as rádios de forma mais expressiva. A Venture, a quinta faixa do disco, é acompanhada pelo baixo sempre preciso do icônico Rickenbacker de Squire; finalmente, a belíssima Perpetual Change vem para terminar com os três discos que a banda se propôs a fazer. A banda faz uma breve referência à plateia e retira-se para um intervalo de aproximadamente cinco minutos.

Àquela altura da noite, estávamos todos de pé; a primeira e única música do encore seria o single de maior sucesso da banda, ao menos durante a década de 1970. Claro que estamos falando de Roundabout, a primeira faixa do multi premiado Fragile, de 1971. Em uníssono, a plateia cantou o refrão daquela que é a faixa mais expressiva do Yes no progressivo. Uma nova reverência à plateia para fechar o show e a banda se retira pela última vez aos backstages.

O show do Yes em São Paulo foi uma das maiores demonstrações de que o rock progressivo, diferentemente do que apontam os não-fãs do estilo, está bem longe de ser "chato" ou "sonolento". O público, composto majoritariamente por pessoas na faixa dos 40-60 anos, acompanhou o show entusiasmado em toda a sua duração, que excedeu em pouco as três horas. Parece consenso, entre eu e os amigos ali presentes, que presenciamos um dos melhores shows das nossas vidas - quiçá, o melhor. Um espetáculo recomendado para todas as idades, para pessoas de todos os gostos.

Setlist - HSBC Brasil, São Paulo, São Paulo, Brasil (23/05/2011)

Intro: The Firebird Suite (Igor Stravinsky)

Close to the Edge (1972)
1- Close to the Edge

  • I: The Solid Time of Change
  • II: Total Mass Retain
  • III: I Get Up, I Get Down
  • IV: Seasons of Man

2- And You and I

  • I: Cord of Life
  • II: Eclipse
  • III: The Preacher the Teacher
  • IV: Apocalypse

3- Siberian Khatru

Going for the One (1977)
4- Going for the One
5- Turn of the Century
6- Parallels
7- Wonderous Stories
8- Awaken

The Yes Album (1971)
9- Yours is no Disgrace
10- Clap
11- Starship Trooper

  • I: Life Seeker
  • II: Disillusion
  • III: Würm
12- I've Seen All Good People
  • I: Your Move
  • II: All the Good People
13- A Venture
14- Perpetual Change

Encore:

15- Roundabout (Fragile, 1971)