quinta-feira, 17 de maio de 2012

o efeito borboleta (2)

Veja também: o efeito borboleta

No filme Minority Report, dirigido por Steven Spielberg e baseado na obra homônima de Philip K. Dick, a polícia de Washington, no ano de 2054, já consegue prever os assassinatos e impedir que eles aconteçam. Pessoas com senso paranormal, chamadas de precogs, flutuam em meio a tanques de fluido nutriente. Ao terem uma visão, uma divisão de elite da polícia de Washington é acionada, para que se possa prender o acusado. No entanto, o sistema é duramente criticado, pois baseia-se em visões paranormais para prender alguém inocente - até porque se a pessoa é presa antes do assassinato, por mais que ela de fato o fosse cometer, ainda não é o suficiente para acusá-la de assassinato. Mas poderia, neste caso, a vida imitar a arte? Fica a pergunta: seria possível prever o futuro com 100% de precisão?

No post relativo ao efeito borboleta, modelei o que poderia ser o tempo de tráfego de um ônibus por uma cidade. No entanto, era um modelo que descrevia apenas o ônibus, e que incluía diversas variáveis: o trajeto, a velocidade instantânea do ônibus em cada ponto do percurso (ou, para uma estimativa um pouco menos precisa, a velocidade média do ônibus em todo o caminho), o número de passageiros, as condições climáticas, o estado de conservação da estrada e até mesmo fatores menos relevantes, como o estado emocional do motorista ou (por que não?) o atrito dos pneus com o asfalto. Depois de uma extensa coleta de dados, talvez pudesse ser precisado, futuramente, quanto tempo o ônibus demoraria para fazer todo o trajeto.

O problema de tal modelagem é que há muitas variáveis em jogo e que, não necessariamente, estão interligadas entre si. Seria exigido um esforço computacional muito grande para, de alguma forma, conectar todas essas variáveis individualmente e calculá-las em função do tempo total que será gasto. Além do mais, funções como o estado de conservação da estrada e as condições climáticas precisam de um modelo específico para elas próprias, agregando ainda mais dificuldade ao cálculo.

De qualquer forma, vamos dar um passo além: pode-se modelar, por exemplo, de quanto em quanto tempo você pisca seus olhos? Pode-se modelar a que horas você vai dormir hoje? Pode-se modelar o momento exato da sua morte? Poderia eu prever que você está lendo esse texto? (De certo modo, sim, já que ao chegar até aqui, certamente você precisou ler o post...) Generalizando, pode-se modelar todo comportamento que ocorre no mundo, por mais irrelevante que ele seja, ou então modelar cada acontecimento da sua vida e das pessoas que o cercam? Pasme: em teoria, sim. Em teoria.

Vamos partir do pressuposto de que as ciências exatas, em particular a Física, a Química e as suas respectivas conexões com as demais áreas do saber, tenham alcançado todo o conhecimento possível acerca do universo. Sendo assim, todo e qualquer sistema, por mais complexo que fosse, poderia ser modelado por alguma ferramenta de modelagem, já que teríamos diversas equações para explicar desde o mais simples dos fenômenos até o mais assombroso (e, de certa forma, encantador) dos problemas. Ou seja: com uma quantidade finita de cálculos (mas ainda assim assustadoramente grande), poderíamos, sim, "prever" o futuro.

Deu pra perceber que isso soa um tanto utópico, não é? Infelizmente (ou felizmente), de fato, o é. Nem que colocássemos os mais poderosos super-computadores para atuar em conjunto, os maiores servidores para armazenar os dados recolhidos e as mentes mais brilhantes de todo o mundo para coordenar todo o projeto, o resultado ainda teria uma margem de erro um tanto significativa. Somos mais de sete bilhões de pessoas, habitando um planeta de mais de 12.000 km de diâmetro e 5.973.600.000.000.000.000.000.000 kg (nem me pergunte que número é esse por extenso!), com constante atividade de origem atmosférica, magnética, gravitacional, cinética, térmica, elétrica e o que mais você imaginar, além de suas respectivas interações umas com as outras... Mas seria tudo isso MESMO possível, mesmo em um futuro distante, dadas as circunstâncias (pelo menos aparentemente) nem um pouco favoráveis?

Não só seria possível como nós já experimentamos isso em nosso próprio cotidiano - e olha que nem é algo assim tão novo. Podemos modelar, por exemplo, o crescimento de uma população em uma colônia de bactérias através de uma função exponencial cuja variável é o tempo. Podemos modelar quantos pássaros da espécie Diomedea exulans (popularmente conhecido como albatroz) põem seus ovos nas ilhas Malvinas entre os meses de dezembro e fevereiro fazendo-se uso de uma equação diferencial de segunda ordem, por exemplo. A cada vez que você assiste a Rosana Jatobá apresentando a previsão do tempo no Jornal Nacional, você está assistindo a uma previsão (com uma margem de erro altíssima) de como estarão as condições climáticas do país no dia de amanhã.

Se me permitem fazer uso do trocadilho infame, o nosso futuro distante pode estar nos aguardando em um futuro ainda mais distante. Algo que nos é objeto de desejo desde nossos primórdios pode não ser algo assim tão etéreo quanto se imagina. No entanto, ainda nos falta o toque divino de prever quem nós mesmos seremos daqui a um tempo, sem ainda o sermos. A ideia é um tanto confusa e (mais ainda) estranha. Acima de tudo, perigosa, já que o mal uso de tais informações pode implicar em sérias consequências para uma pessoa, uma comunidade, uma nação e até mesmo para a manutenção de toda a vida no planeta. Resta-nos sonhar. Ou ter pesadelos.

a questão das malvinas

Meados de 1982. O general Leopoldo Galtieri havia assumido há pouco o governo argentino. A ditadura platina já não tinha a força de outrora, e Galtieri precisava manter a situação sob controle, de alguma forma. Foi proposto, então, que a Argentina declarasse guerra à Inglaterra (à época governada pela "Donzela de Ferro" Margareth Thatcher) para requisitar o domínio sob as ilhas Malvinas (ou ilhas Falkland), além dos arquipélagos de Sandwich e Geórgia do Sul. Galtieri contava com a proximidade do território de seu país em relação à área de conflito para vencer a peleja; no entanto, as tropas britânicas eram muito superiores tecnologicamente, e o conflito foi razoavelmente curto. O saldo: 649 soldados argentinos mortos, contra 255 baixas britânicas, além de três civis das Falkland. Thatcher consegue se reeleger em 1983, e Galtieri renuncia em 18 de junho de 1982, quatro dias após o fim da guerra.

Ainda no começo da década de 1980, as mentes jovens inglesas davam início a uma explosão pelo país. Não era nenhuma revolta armada; os jovens empunhavam suas guitarras e saíam pelos bares londrinos atrás de um bom heavy metal. Era a New Wave of British Heavy Metal (NWoBHM, Nova Onda do Heavy Metal Britânico, em tradução livre), um movimento musical que lançou ao mundo bandas como Iron Maiden, Saxon, Venom e Def Leppard, além de ser influência para todo o metal subsequente a ele. Não demorou muito, a febre proliferou-se pelos países da Europa, chegou com força nos Estados Unidos e pouco a pouco foi chegando nos países latinos.

Mas não na Argentina. O orgulho ferido na questão das Malvinas fez com que fosse ditada uma barreira contra tudo que tivesse origem inglesa - inclui-se aí, claro, o heavy metal. No entanto, em tempos de Guerra Fria, além de um clima caótico que começava a emergir no país, com altos índices de desemprego e com cidadãos fortemente reprimidos pelo governo ditatorial, a rebeldia arrebatava a mente dos jovens platinos, tal qual ocorrera na Grã-Bretanha. Não demorou muito, surgiu uma NWoBHM em versão hermana - atrevo-me a denominar tal movimento NOdHMA, Nueva Ola del Heavy Metal Argentino. Bandas como o Rata Blanca, o V8, o Flema, o La Torre e o Hermética surgiam a cada esquina em Buenos Aires.

No mês de maio, a Rolling Stone, o maior veículo de comunicação impressa do meio rock/metal no Brasil, vai trazer uma matéria especial sobre o tema. A revista, que chegou às bancas no último dia 15, trata de fazer um paralelo entre o conflito armado entre os países e suas consequências para a música portenha, em particular para o metal - hoje, o público argentino é o que mais gasta dinheiro com shows no mundo todo, mais que os próprios ingleses. Uma ótima dica de leitura para o final deste mês.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

pink floyd - dark side of the moon (1973)

Richard "Rick" Wright, David Gilmour, Roger Waters e Nicholas "Nick" Mason

Música, vocês sabem, é algo extremamente relativo. Há quem goste de música clássica, há quem goste de blues, há quem goste de música flamenca, há quem goste dos ritmos tradicionais do oriente, há quem goste de polca, etc. Há quem goste, inclusive, de música como o funk carioca e a atual cena sertaneja - "gostar" e "música", nestes casos em específico, são conceitos absolutamente relativos, e deixarei aos leitores pensar a respeito. O rock, estilo tão rico que é, subdividido em inúmeras vertentes, pode ser visto da mesma maneira: há quem goste de rockabilly, há quem goste de thrash metal, há quem goste de punk, há quem goste de skiffle, há quem goste de hard rock e por aí vai. Achar pessoas com um gosto musical semelhante é muito raro nos dias de hoje, e a internet tem servido como uma poderosa ferramenta para encontrar essas pessoas.

A meu ver, no entanto, nenhuma das vertentes supracitadas tem mais "lovers" e "haters" do que o rock progressivo. O estilo, fundado na segunda metade da década de 1960 e no início da década de 1970 (segundo a maioria das fontes), traz duas visões que, apesar de opostas, podem ser perfeitamente pertinentes e discutíveis. Se por um lado a complexidade e o experimentalismo do rock progressivo foi um excelente meio de "testar" os instrumentos (inclusive, testar novos instrumentos e suas respectivas sonoridades) ao ponto de extrair todas, ou quase todas, as limitações de cada um deles, por outro lado a cadência do ritmo acaba por deixá-lo cair na monotonia, para quem ainda não se adequou ao estilo de composição. Composições longuíssimas como Echoes (Pink Floyd, 23min 29seg), Anonymous Two (Focus, 26min 19seg) e as quatro músicas do memorável Tales from Topographic Oceans, do Yes (somadas alcançam os 81min 15seg), além da temática conceitual de boa parte dos discos do estilo, tornam o rock progressivo algo chato e repetitivo para quem ainda não se adequou a ele.

Mas há uma (possivelmente, somente uma) exceção. Dark Side of the Moon, sexto disco de estúdio dos ingleses de Cambridge, Pink Floyd, lançado em março de 1973, costuma agradar a gregos e troianos. O disco traz marcas impressionantes consigo: pra começar, é o segundo disco mais vendido de toda a história da música, com impressionantes 50 milhões de cópias (à frente, só Thriller, de Michael Jackson, recordista absoluto com mais de 100 milhões de cópias vendidas). É também o disco recordista de permanência no Top 200 da Billboard: 795 semanas consecutivas, pouco mais de 15 anos. Estima-se que, nos EUA, a cada 14 pessoas com menos de 50 anos, pelo menos uma tem uma cópia original do Dark Side of the Moon.

Não pouparei elogios ao Dark Side of the Moon. Por mais que, de uns tempos pra cá, tenha se tornado um clichê apontá-lo como obra máxima do Pink Floyd, do rock progressivo e até da música, para alguns poucos, é impossível deixá-lo de lado ao apontar uma lista (por mais imprevisíveis que as listas geralmente sejam) contendo os maiores lançamentos de todos os tempos. Diferente de outros discos que tiveram uma alta vendagem, como o já citado Thriller, o Back in Black (AC/DC, 1980 com aproximadamente 49 milhões de discos vendidos) ou Led Zeppelin IV (Led Zeppelin, 1969, com mais de 37 milhões de cópias vendidas), Dark Side of the Moon não se destaca por uma ou mais faixas (pode-se citar as faixas título dos dois primeiros e Stairway to Heaven, no último, dentre os três discos citados), mas sim pelo conjunto da obra, que é de natureza conceitual.

Discos conceituais... há pouco eu disse que álbuns que seguem essa linha geralmente não são tão aclamados por não fãs do prog. Então, por que esse sucesso do DSotM? A resposta não é tão simples assim, na verdade. Talvez um dos motivos seja o fato de que o disco já era tocado em turnê própria desde janeiro de 1972, 14 meses antes de seu lançamento oficial - o que, obviamente, não explica tudo, já que 1) o disco lançado era bem diferente das faixas inicialmente tocadas; 2) The Piper at the Gates of Dawn, o debut do Pink Floyd, era executado desde meados de abril de 1965, ainda com Bob Klose na guitarra e ainda sob o nome The Abdabs, e foi lançado apenas em agosto de 1967, sem, no entanto, ter feito o mesmo sucesso de Dark Side of the Moon - grandes nomes da música, como Paul McCartney, já apontaram The Piper (...) como o melhor disco da carreira do Pink Floyd, opinião compartilhada por este que vos escreve.

Capa do disco, uma das mais mitológicas
da história da música
O Dark Side of the Moon também tornou-se um grande nome da música em razão de várias curiosidades acerca de seu processo de gravação. A maior delas, possivelmente, é a sua perfeita sincronia (pelo menos na opinião de alguns) com o filme de 1939, O Mágico de Oz, com Judy Garland interpretando Dorothy, em seu primeiro papel no cinema. Uma versão do filme, bastante conhecida e facilmente encontrada pela internet, é chamada de The Dark Side of the Rainbow; os áudios originais do filme foram retirados e, sobre eles, foi sobreposto o áudio original do Dark Side of the Moon. Aqui, uma das cenas mais impressionantes: a cena em que o tornado leva Dorothy e seu cachorro Totó para o reino de Oz, sincronizada com a faixa The Great Gig in the Sky - percebam como os vocais de Clare Torry praticamente narram o desespero da jovem Dorothy em busca de abrigo. Ao final da cena, entra a música Money e o filme torna-se colorido, algo que pode ser representado pela própria capa do disco - a luz incidente sobre o prisma e a decomposição no espectro de luz visível.

Dark Side of the Moon firmou-se como um dos maiores clássicos de todos os tempos não à toa. É um dos discos mais perfeitos e mais bem compostos de todos os tempos. Curiosidades, sincronias e mistérios à parte, as mais sutis nuances da vida e da morte, as alegrias, as decepções, a loucura, a euforia, a ganância, a humildade, o tempo, a amizade, bem como as linhas tênues que permeiam todos estes e muitos outros aspectos de nossa vida, são retratados de forma brilhante em Dark Side of the Moon. Obra mais que obrigatória na estante do bom gosto musical.

There's no dark side of the moon really. As a matter of fact, it's all dark.

Você pode baixar esse disco aqui.

terça-feira, 1 de maio de 2012

os 10+ machos do metal


Para o grande e saudoso mestre Luís Carlos Alborghetti, ter culhão era sinônimo de macheza. O metal, desde a fundação do estilo, com o Black Sabbath, é um verdadeiro sinônimo para culhão. E alguns dos caras que já passaram pelos quase 60 anos do estilo conseguiram se tornar grandes lendas devido a seus atos de virilidade. Segue abaixo o Top 10 dos caras mais tr00 da história do rock/metal.

10 - Dave Mustaine (Megadeth)

Quack!
Imagine-se na seguinte situação: você faz parte da banda que é a maior promessa da sua cidade, em um estilo que vem emergindo no meio metal, e é tido como um dos melhores guitarristas da região, além de um exímio compositor. Aí os caras te chutam da banda e te colocam em um ônibus rumo ao outro lado do país em uma noite de bebedeira excessiva - e põe excessiva nisso, já que você só vai se ligar da sua situação depois de dois dias. Foi exatamente isso que aconteceu com nosso querido pato Mustaine. Como ele sabe que é foda, promete que vai montar uma banda (o Megadeth) ainda mais foda que a sua antiga banda (o Metallica) e que irá, no mínimo, ofuscar seu sucesso. Na minha humilde opinião, ele conseguiu, e com louvores - tratei desse aspecto em outro post aqui do blog, aqui.



9 - Glenn Danzig (Misfits, Samhaim, Danzig)

Este cara é simplesmente o mentor de uma das melhores bandas punk de todos os tempos, o Misfits. Lançou petardos absolutos como Skulls, Astro Zombies, Last Caress e Die, Die my Darling, entre outros. Quando viu que suas pretensões já eram altas demais para que o Misfits o alçasse a elas, Danzig simplesmente deixou a banda e criou a sua própria, o Samhaim, que mudou seu nome pouco tempo depois para Danzig. As composições já eram muito mais maduras que o punk de outrora, e a sonoridade é muitíssimo diferente do que Danzig fez no Misfits (onde era o principal compositor, disparado). Se ele está satisfeito? Pelo que ouvi em seu último disco, Danzig IX: Deth Rod Sabaoth, o bom e velho Glenn Danzig ainda tem o fôlego de um garoto!




8 - Freddie Mercury (Queen)

Bissexual assumido, Farrokh Bulsara, mais conhecido sob o pseudônimo Freddie Mercury, veio a falecer em 1992, vítima das complicações causadas pela AIDS. Era vocalista de uma banda chamada Queen - o nome, segundo Freddie, era um nome "forte, impactante". O que tem de masculinidade nisso? Tudo! O Queen ocupa hoje o panteão das bandas intocáveis da história do rock, lar de uma meia dúzia de privilegiadas. Freddie Mercury, por sua vez, não raro, é listado entre os melhores vocalistas de todos os tempos. E não por não merecer: seus falsetes são tidos por muitos como os mais perfeitos da história, e sua versatilidade era algo invejável. Deus salve a rainha!



7 - Johnny Zazula

Assim como Mustaine, outro nome ligado aos primeiros anos do Metallica. Johnny Zazula (ou Johnny Z, se você se julgar íntimo o bastante) era dono de uma conceituada loja de discos em New Jersey, e foi avisado por amigos da costa oeste dos EUA (a citar, Brian Slagel, Mark Whittaker e Ron Quintana) de que uma nova banda emergia na cidade de San Francisco. Após ouvir a demo No Life 'Til Leather, lançada em 1981 e gravada com o auxílio de Brian Slagel, Zazula concordou em financiar o disco do Metallica. Só tinha um problema: ele não tinha uma gravadora. O que ele fez? Simplesmente vendeu a sua loja e toda a sua reputação construída ao longo de anos para fundar seu selo, a Megaforce Records, que viria a gravar o disco que hoje é o Kill 'em All (1983). Ainda bem que o Metallica foi pra frente (e como foi!), não é, mr. Z?



6 - Abbath Doom Occulta (Immortal)

Talvez você não conheça Olve Eikemo. Pois saiba que ele é simplesmente uma das cabeças mais influentes da cena black metal, que por si só já é o estilo mais tr00 do metal. Abbath é o mentor do Immortal, banda norueguesa de Bergen. Enquanto a maioria das bandas pregavam mensagens anti-cristãs e pagãs em sua música, e também fora dos palcos (que o digam as 52 igrejas destruídas e as mais de 15.000 tumbas violadas pelos membros do movimento conhecido como Inner Circle), o Immortal nunca foi uma banda assim tão expoente do extremismo do black. Até aí, nada de realmente relevante... Mas vamos considerar que Abbath já passou pelo baixo, migrou para a bateria (em uma época em que o Immortal se resumia a ele e seu companheiro fiel, Demonaz) e hoje é guitarrista, tecladista e, claro, vocalista. Ainda não é o suficiente? O Inner Circle ameaçou de morte o vocalista da banda sueca Therion, Christofer Johnsson. Não só isso: atearam fogo na casa do pobre vocalista da banda de symphonic metal, um estilo gay demais na visão do clube-do-Bolinha anti-Cristo. Com o Immortal? Nunca ousaram sequer chegar perto deles, apesar de serem noruegueses como os caras do Inner Circle.




5 - Tom Araya (Slayer)

O que você faria se fosse um cara de família cristã tradicionalíssima, baixista e vocalista em uma banda de thrash metal, cujos demais integrantes são todos ateus? Você pensaria em cantar algo assim?

Religion is hate!
Religion is fear!
Religion is war!
Religion is rape!
Religion is obscene!
Religion is a whore!
Religião é ódio!
Religião é medo!
Religião é guerra!
Religião é estupro!
Religião é obscena!
A religião é uma puta!

Amigos, este é Tomás Enrique Araya. Para Tom Araya, não importa o que você canta, o que importa é que deus ama a todos nós (o oposto do que o Slayer quis dizer com seu álbum de 2001, God Hates Us All, mas tudo bem). Palavras do próprio: "As pessoas não sabem bem onde devem buscar suas crenças, seja por causa de um livro ou história que alguém escreveu, ou uma música do Slayer". Araya é um cara foda simplesmente porque não liga para o que dizem (ou mesmo para o que ele próprio canta), ele é e sempre será católico e temente a deus. Tom Araya é o cara, e o Slayer é a reserva moral do thrash metal!





4 - Rob Halford (Judas Priest)

O Judas Priest é uma banda irrepreensível. Há quem não goste do som da banda, o que é perfeitamente aceitável (até porque gosto, já diz o ditado, é como a nossa cavidade anal, não é?). Mas é impossível não respeitar o som dos caras. Junto com o Black Sabbath, forma a dupla testa-de-ferro do heavy metal pré-NWoBHM, ambas as bandas provenientes da cidade de Birmingham. Rob Halford, um dos maiores e mais conceituados vocalistas do metal de todos os tempos, foi o principal vocalista do Judas durante os mais de 40 anos de carreira da banda, com apenas um hiato entre 1992 e 2004. Neste hiato, Halford assumiu seu homossexualismo. Homossexualidade, grande vocalista... o que o faz melhor que Freddie Mercury, para este ocupar a 8ª posição e Halford, a 4ª? Simples: Halford é um ídolo heterossexual. Sim, você não leu errado: um gay que é simplesmente idolatrado pelos machões héteros que lotam os shows do Judas ao redor do mundo. Digamos que assumir uma postura tão máscula quanto Halford assumiu em sua primeira passagem pelo Judas e, de repente, "jogar" essa reputação "no lixo" com a declaração de que seria homossexual é a coisa mais hétero que um cara poderia fazer.

3 - Varg Vikernes (Mayhem, Burzum)

Do jovem delinquente...
Um dos tiozões do já citado Inner Circle é esse cara aí, que é tão macho que merece até um pequeno texto. Na verdade, não era Varg Vikernes, mas sim Count Grishnackh, pseudônimo do nosso querido tripulante de navio pesqueiro. Varg começou sua carreira no Old Funeral, banda que fundou com Abbath no começo da década de 1980. As coisas não foram como o esperado, e Varg tocou o foda-se e montou uma banda onde o único integrante era ele próprio, o Burzum - foi nessa época em que ele adotou o seu pseudônimo, retirado de uma frase escrito em Língua Negra na saga O Senhor dos Anéis (pra provar de uma vez que os nerds podem ser tr00s, sim!).

Paralelamente ao Burzum, Varg tocou no Mayhem, possivelmente a maior banda do Inner Circle. O vocalista do Mayhem, Per Yngve Ohlin (cujo apelido carinhoso era Dead) suicidou-se em 1991 - Dead está morto, que ironia não? Havia uma carta, escrita pelo próprio Dead (que, segundo relatos, era depressivo e fissurado pela morte), pedindo "desculpas pelo sangue derramado". Ele cortou os pulsos e deu um tiro de escopeta em sua própria cabeça, na casa que a banda toda habitava, em uma floresta nas proximidades de Oslo.

O primeiro a encontrar Dead morto (sem trocadilhos) foi o guitarrista do Mayhem, Euronymous, com quem Dead brigava frequentemente. Ao ver a cena, certamente chocante, adivinhem o que Euronymous fez? o mais óbvio possível: foi até Oslo, comprou uma câmera fotográfica, tirou uma foto do defunto e colocou na capa da coletânea Dawn of the Black Hearts, lançada em 1995. Há quem diga, inclusive, que ele foi além: teria arrancado fragmentos do crânio de Dead para fazer um colar, bem como ter feito um frito com os miolos do cara. Gente bizarra...
...ao pescador de bacalhau sem graça

E é aí que voltamos ao nosso ídolo pescador de bacalhau, Count Grishnachk (ou Varg Vikernes, tanto faz). Lembram do caso do Therion, descrito ali em cima? Adivinhem quem assinou uma carta, enviada quatro dias após o incêndio para Christofer Johnsson? "Olá vítima! Aqui é o Count Grishnachk, do Burzum. Acabo de voltar de uma pequena viagem a Suécia, mais precisamente em um lugar a noroeste de Estolcolmo e acho que perdi um isqueiro e um disco do Burzum, ha ha! Voltarei muito cedo e talvez, desta vez, não os acordarei no meio da noite. Darei uma lição de medo. Somos realmente muito loucos, os nossos métodos são a morte e a tortura. As nossas vítimas morrerão lentamente, devem morrer lentamente." Que amistoso, senhor Varg!

O capítulo final daquele cuja história lembra os defensores dos portões de Valhalla tem a ver com o já citado Euronymous. Em 1993, Varg deu uma entrevista a um jornal norueguês, a fim de divulgar o black metal, que já ganhava notoriedade fora da Noruega, e a loja que Euronymous tinha em Oslo, chamada Helvete (traduzido do norueguês, inferno, como já seria de se suspeitar). No entanto, a entrevista culminou com uma investigação policial, que obrigou Euronymous a fechar a loja e à prisão de Varg, por algumas semanas. Em agosto daquele ano de 1993, Euronymous foi morto por Varg, com 23 facadas, por dinheiro referente ao disco debut do Burzum. Segundo Varg, Euronymous teria o atacado com uma faca, e ele teria retirado uma outra faca, que guardava em sua bota, para matar o guitarrista. Óbvio que Varg foi preso, e pagou 16 anos de sentença. Neste período, ele lançou quatro discos pelo Burzum, um disco pelo Old Funeral e mais quatro livros. E desde então se tornou um cara chato.

2 - Lemmy Kilminster (Motörhead)

Eis aqui um cara que poderia ser taxado facilmente como a materialização da masculinidade. Lemmy é tão tr00 que até o seu estilo vocal rouco transborda testosterona. Eu me arriscaria a dizer até que o trema sobre a letra "o" nos discos do Motörhead (The Wörld is Yours, Infernö, Motörizer) são o que há de mais macho na face da Terra. Baixistas se escondem demais atrás das guitarras? Não Lemmy: o estilo dele de tocar é absolutamente único, com o timbre muito semelhante ao de uma guitarra base - o que gerou desentendimento com quase todos os guitarristas solo que já passaram pelo Motörhead. E as frases do grande Ian Fraser? "Se você acha que está ficando velho para o rock 'n roll, então você está!", "Eu já vi deus quando tomei ácido e posso garantir: o cara é bem mais forte que eu", "Nunca fui para a cama com uma garota feia, mas acordei com algumas delas", e etc. Eu não conseguiria escrever deus com letra maiúscula, mas Lemmy eu poderia muito bem escrever em fonte de tamanho 30!





1 - Joey DeMaio (Manowar)

Dois deste Top 10 aqui assumem que não curtem uma parada assim tão tradicional, digamos assim. Mas o rei dessa lista não poderia ser outro, senão o cara mais hétero da banda mais hétero de todos os tempos. É claro que eu estou falando dos filhos legítimos de Odin, o Manowar, e é claro que eu estou falando do baixista Joey DeMaio. A paródia da banda que sobe ao palco vestidos com maiôs de oncinha e seus corpos másculos besuntados de óleo vegetal (ui!) esconde o verdadeiro propósito de DeMaio e companhia. Qual o propósito?

"Se a dona de uma importante gravadora quiser fazer sexo com você em troca da gravação de um de seus discos, você aceitaria?"
"O faria não pela gravação do disco, mas porque esta é a minha missão na Terra. É a missão de todos os homens."

O Manowar é a única banda que reserva-se o direito de assumir o selo "true heavy metal". E estão em seu direito, protegidos sob a ira do martelo impetuoso de Thor! O Manowar é a banda que assume a forma mais pura do heavy. DeMaio e seus companheiros beberam da fonte proibida próxima da Yggdrasil nórdica. Pra fechar este post com chave de ouro, nada melhor que outra grase do próprio Joey DeMaio:

"Se você procurar pelo flamenco, você pode encontrá-lo em vários países da América Latina. Mas o único flamenco autêntico é aquele da Espanha. Da mesma forma é com o heavy metal: você pode encontrá-lo em várias bandas, mas apenas o Manowar é que detém a sua autenticidade."