domingo, 4 de março de 2012

scorpions - eye ii eye (1999)

Se há alguma semelhança entre todos os fãs, de todos os artistas musicais, de todos os gêneros possíveis e imagináveis, é esta: sempre vai ter alguém que vai chiar quando o artista/a banda em questão lançar um disco que foge do escopo que linearizou em seus álbuns anteriores. Não é algo absurdo, diga-se de passagem; fã que é fã defende com unhas e dentes o som característico de seus artistas favoritos. Há discos que fogem da proposta da banda e que se tornam verdadeiros fracassos - o caso mais recente é o Metallica e seu lançamento, em parceria com Lou Reed, do Lulu, eleito o pior lançamento do ano passado. Mas em outros casos, como o Iron Maiden em seu clássico Somewhere in Time (1986), a recepção, a princípio, é enfaticamente negativa e, com o passar do tempo, o panorama muda radicalmente - o SiT hoje é um dos maiores clássicos da Donzela. Na verdade, o que caracteriza a aceitação de um disco desse tipo por parte dos fãs vai muito mais do bom senso musical deles - e, obviamente, da banda.

Eye II Eye é, de longe, o disco que é mais "oito ou oitenta" dentre todos os 18 discos da discografia de estúdio dos Scorpions; há quem ame, e há quem deteste. Com a entrada do californiano James Kottak na banda, a banda decidiu abrir mão do hard rock clássico (por vezes flertando com o glam metal) que acompanhava a banda desde o lançamento de seu conceituado disco Blackout (1982) para fazer uso de novas sonoridades. Posteriormente, a banda lançaria um disco orquestrado com a Orquestra Filarmônica de Berlim, o Moment of Glory (2000); em 2001, a banda foi até o Convento do Beato, em Lisboa, gravar o disco que se tornaria o Acoustica, em formato acústico. Mas o primeiro disco a integrar essa nova era nos Scorpions fazia uso de batidas eletrônicas, mesclando o pop dos anos 1990 com o tradicional hard rock da banda.

Aliás, é bom ressaltar uma coisa: Eye II Eye está bem longe de ser um disco para se conhecer os Scorpions. Na verdade, os alemães são uma das bandas mais versáteis em termos de estilo que eu já tenha ouvido, com músicas que foram desde um heavy metal extremamente sujo, beirando o thrash, até composições que tragam o espírito progressivo-psicodélico, característico da década de 1970, passando por estilos como o flamenco, o frevo, o blues, o speed metal e, claro, muito hard rock. Mas Eye II Eye é talvez o único álbum de toda a discografia da banda que foi totalmente rejeitado pelos seus fãs logo de cara - seu antecessor imediato, Pure Instinct (1996), trazia uma série de baladas românticas, que consagraram a banda e, de certa forma, se tornaram a identidade dos alemães de Hannover perante o grande público, gerando até um certo preconceito de algumas pessoas, e talvez esse seja um dos motivos de tamanha rejeição.

Individualmente, há muito pouco o que se falar da banda, justamente pela característica de ser um disco moldado sob o estilo pop. Pode-se atentar ao baixo sempre muito presente de Ralph Rieckermann - para os que reclamam de que o baixo é um instrumento muito ausente, em termos auditivos (o que eu discordo veementemente), Eye II Eye é um disco interessante pra se mudar essa postura. Talvez isso se deva ao fato de que as guitarras são bem menos presentes do que haveria de se esperar de um disco de hard rock; na mixagem, ouve-se quase nada de Rudolf Schenker e Matthias Jabs na maioria das músicas, com exceção (óbvio) dos solos. A bateria do estreante Kottak, nota-se claramente (em particular ao ouvir lançamentos posteriores, como o Unbreakable (2004)), foi moldada para os padrões do disco, o que limitou bastante seu trabalho. Com relação a Klaus Meine, não há absolutamente nada a se dizer: o alemão prova, pela enésima vez, o poder de suas cordas vocais e o porquê de frequentemente estar listado entre os grandes vocais de todos os tempos.

Como um disco, Eye II Eye prova-se um tanto inconsistente. O disco é cheio de altos e baixos em sua extensão, com músicas que boa parte adora, mesclada com faixas que são até um pouco non-sense e seguidas por faixas que a maioria detesta. Falando por mim mesmo, as três primeiras faixas refletem exatamente isso - respectivamente Mysterious, To Be n° 1 e Obsession. Talvez por ser tão dual, não há como se citar faixas específicas que podem ser taxadas de boas ou ruins, vai muito do feeling. Conversando com fãs da banda, no entanto, e baseado no meu próprio gosto pessoal, me parece que a já citada Mysterious, bem como a faixa-título (uma homenagem aos pais mortos de Schenker e Meine, os frontmen da banda) e a belíssima A Moment in a Million Years sejam as preferidas da maioria. Acrescentaria ainda as duas músicas mais pesadas do disco, Mind Like a Tree e Aleyah, como destaques positivos. Sem sombra de dúvidas, Eye II Eye é uma audição interessantíssima, inclusive para tentar se libertar de certos preconceitos musicais que todos temos.

Track List

1. Mysterious
2. To Be n° 1
3. Obsession
4. 10 Light Years Away
5. Mind Like a Tree
6. Eye to Eye
7. What U Give U Get Back
8. Skywriter
9. Yellow Butterfly
10. Freshly Sqeezed
11. Priscilla
12. Du Bist So Schmutzig
13. Aleyah
14. A Moment in a Million Years

Baixe o álbum aqui.