sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

cannot the kingdom of salvation take me home?

Noite de 27 de setembro de 1986. Proximidades da cidade sueca de Ljungby. Enquanto seguia para a capital Estocolmo, o ônibus da banda de thrash metal Metallica (à época ainda emergentes, tanto o estilo quanto a banda em si) derrapou na pista congelada e caiu em um precipício. Enquanto roadies e os integrantes da banda subiam, ainda sem entender toda a situação, percebeu-se que um dos integrantes da banda, o baixista, ainda estava lá embaixo. Conforme o ônibus capotava, ele, que havia ganhado o direito de dormir na cama de cima de um dos beliches do ônibus em um jogo de cartas, havia sido arremessado para fora do veículo, que acabou por esmagá-lo.

Clifford Lee "Cliff" Burton nasceu em 10 de fevereiro de 1962, na cidade californiana de Castro Valley. Seus pais, Ray e Jan Burton, influenciaram-no à carreira musical desde muito novo. Sua grande paixão, a princípio, era o teclado, influenciado pelo jazz que seu pai lhe apresentara. O gosto pelo heavy metal cresceu depois, influenciado pela crescente do Black Sabbath na Inglaterra e pelo surgimento de bandas como Judas Priest, Kiss e Motörhead. Ao completar 13 anos de idade, um fato mudou totalmente o direcionamento musical de Cliff: a morte de Scott Burton, seu irmão mais velho, que era baixista. O jovem Burton prometeu que se tornaria "o melhor baixista, em memória de sue irmão", e dedicou uma rotina diária de seis horas de ensaios nos instrumento.

Ao terminar o ensino médio na escola de sua cidade, Cliff seguiu para o Chabot Junior College. Lá, conheceu Jim Martin (ex-guitarrista do Faith No More), e com ele montou sua primeira banda, o Agents of Misfortune. Imagina-se que um dos festivais promovidos pela escola, denominado Batalha das Bandas, haja o primeiro registro de Cliff em sua história - tal registro já mostrava parte do que viriam a ser as músicas Pulling Teeth (Anesthesia) e For Whom the Bell Tools. Em meados de 1982, Cliff seguiu para o Trauma, sua primeira banda que demonstrou alguma notoriedade.

Em um show no Whisky a Go-Go (mítico barzinho da cidade de San Francisco), o Trauma contava com duas pessoas no público que viriam a ser relevantes para a carreira de Cliff (à época com 20 anos): James Hetfield e Lars Ulrich, fundadores da então recém-nascida Metallica. Após ver o solo de baixo de Cliff (a já citada Pulling Teeth), cheia de distorções e efeitos (ao ponto de confundir os membros do Metallica e este que vos escreve este post, deixando a entender que seria um guitarrista), Hetfield e Ulrich sondaram Cliff com muita insistência, para trazê-lo ao Metallica - cujo baixista, a época, era Ron McGovney. Com a condição de que a banda mudasse sua sede, de Los Angeles para San Francisco, Cliff concordou em ingressar na banda.

Com o Metallica, Cliff lançou três discos após sua entrada, ainda no ano de 1982. Muitos, inclusive eu, consideram tais discos como os melhores já lançados pela banda. Kill 'em All (1983) é um disco mais seco, onde claramente nota-se a influência de bandas como Misfits e Motörhead - a obra mais característica de Cliff, Pulling Teeth (Anesthesia), encontra-se no disco debut. O álbum seguinte, Ride the Lightning (1984), é mais virtuoso que seu anterior, com passagens que lembram músicas progressivistas. Músicas como For Whom the Bell Tools, que já tinha a introdução e algumas partes compostas por Cliff ainda nos tempos de Agents of Misfortune, e a instrumental The Call of Ktulu, composta por Burton e o ex-guitarrista Dave Mustaine (um dos maiores algozes do Metallica à época), se encontram no LP.

Finalmente, aquele que seria o maior sucesso da carreira de Cliff Burton: Master of Puppets. O terceiro disco do Metallica, lançado em 1986, traz desde petardos absolutos, como Battery, Damage Inc., Disposable Heroes e a faixa título (um dos maiores hits da história da banda), até composições mais sóbrias, como Welcome Home (Sanitarium), Leper Messiah e The Thing that Should not Be. A grande faixa do disco, porém, é a instrumental Orion, de aproximadamente oito minutos. Com transições que vão desde o thrash metal puro até um experimentalismo com altas doses de virtuose, Orion é a maior demonstração, na minha opinião, daquela que foi sua principal característica: o uso de seus pedais de distorção. Os efeitos de wah e os overdrives que Cliff impõe à música são impressionantes e muito belos. Audição mais que obrigatória a todos os fãs do instrumento, mesmo os mais "puristas".

Foi ainda na Damage Tour, no ano de 1986, que Cliff Burton deixou esse mundo. Mas hoje, no dia em que seria seu aniversário de 50 anos, seus fãs por todo mundo cultuam a memória deste grande baixista que revolucionou a forma de tocar o instrumento. É a singela homenagem deste blog ao mago das quatro cordas.

When a man lies, he murders some part of the world. These are the pale deaths which men miscall their liver. All this I cannot bear to witness any longer. Cannot the kingdom of salvation take me home?

Cliff Burton