sábado, 17 de setembro de 2011

capítulo 10: mais obscuros que a morte

Característica primal do rock é que, diferente de qualquer outro estilo, este se renova a cada dia. Podem ser modificações pouco usuais em algum instrumento, como uma distorção interessante das guitarras, ou mesmo o surgimento de um novo estilo, totalmente diferente de tudo que já havia emergido anteriormente. E muitas vezes, tais mudanças podem surgir de cenários que muitos considerariam áridos, sem espaço para nenhuma sonoridade diferente. E (incrívelmente) algumas bandas conseguiram definir um novo estilo, advindo de toda a crueza e agressividade do thrash metal, com influência - claro - das bandas da NWoBHM.

Com o lançamento de seu disco Black Metal (1982), o Venom abriu espaço para a vertente que hoje, talvez, seja a mais "extrema" do metal, homônima ao disco. Embora o padrão do disco seja visto como um heavy mais acelerado, quase um thrash, o segundo álbum da discografia do Venom incorporou uma sonoridade mais sombria, com alusão a trechos tidos como satânicos e, segundo críticos da época, sua sonoridade destoava totalmente de qualquer outro play lançado até então. Com os quatro primeiros discos do Bathory (e em especial o terceiro, Under the Sign of the Black Mark, de 1986), o black metal começou a ganhar o mundo, e em particular a região da Escandinávia - Suécia, Finlândia e, em particular, Noruega. Os temas líricos faziam alusão à morte, à guerra e, em casos mais extremos, ao neo-nazismo, utilizando-se de temáticas satanistas ou pagãs, com ênfase na mitologia nórdica.

Há poucos discos lançados no Brasil que, pode-se dizer, ganharam o mundo. Mas se houvesse um disco, e apenas um, que pudesse ser apontado como tal, sem sombra de dúvidas seria o debut da banda mineira Sarcófago, I.N.R.I., de 1987. À capa do disco é atribuída o marco inicial do corpse paint, um tipo de pintura facial que retrata cenas de guerra, o desejo de morte ou pura misantropia. O corpse paint foi usado pela primeira vez nas apresentações do Mayhem, por seu vocalista Per Yngve Ohlin, mas ficou famoso através daquele que é considerado o pai do teatro do horror, King Diamond, em particular em sua passagem pelo Mercyful Fate - o disco debut, Melyssa, de 1983, é audição obrigatória para quem conhecer o black metal.

As bandas de thrash, de uma forma geral, começavam a destoar da sonoridade de seus respectivos debuts. Metallica e Megadeth, incontestavelmente as duas maiores do estilo, começavam a abrir mão da agressividade punk de seus debuts (respectivamente, Kill 'em All, de 1983, e Killing is my Business... and Business is Good!, de 1985), passando a tocar um thrash ligeiramente mais técnico. Prova disso é o disco do Metallica de 1984, o segundo em sua discografia e, particularmente, meu favorito, Ride the Lightning, onde a faixa título e The Call of Ktulu, por vezes, fazem leves referências a passagens progressivas, o que seria mais enfatizado no disco subsequente, Master of Puppets, de 1986. O Megadeth ainda manteria suas bases no thrash calcado no punk por um bom tempo - neste período valeu até um cover do hino Anarchy in the UK, dos Sex Pistols, sob o título de Anarchy in the USA, lançado no So Far, So Good... So What! (1988). A partir do Countdown to Extinction (1992), um disco basicamente comercial, e mais notadamente a partir do Youthanasia (1994) e o sucesso A Tout Le Monde, o Megadeth seguiu por uma vertente um pouco mais leve (ou menos pesada, como queiram).

Outras bandas de thrash, no entanto, aderiram à sonoridade sombria do black, mas sem perder a velocidade e sem abrir mão de suas sonoridades nos primeiros discos. Os casos mais facilmente identificáveis são o Slayer e o Sodom, embora hajam muitas outras bandas que optaram pelo novo estilo. Nascia ali o death metal, basicamente um thrash metal ainda mais sujo, rápido e sombrio. As baterias frequentemente fazem uso da técnica blast beat, conhecida no Brasil como "metralha", atingindo frequências das 160 às 180 batidas por minutos (BPM). As guitarras usam distorções bastante sujas e pesadas, característica essa seguida pelos vocais, quase sempre guturais, e pelo baixo, que tem quase sempre a função de uma terceira guitarra. O death metal é talvez o estilo mais técnico de todas as vertentes do metal, devido a todas essas características.

A origem da denominação death metal, segundo consta na maioria das fontes, assim como no black metal, foi cunhada pelo Venom. Diz-se que, quando perguntados, em uma entrevista, sobre seu estilo, os membros responderam: "Nós somos black metal, thrash metal, death metal..." O Sodom, o Celtic Frost e o Bathory adotaram o termo para si; o Sodom incorporou ainda a característica, advinda do também do Venom, de dar apelidos aos integrantes da banda. Mas o estilo só viria a se consagrar e se definir de uma vez com o Slayer e seu masterpiece Reign in Blood, de 1986. A "faixa única de 29 minutos", como foi e é ainda hoje designado o Reign in Blood, foi certamente a maior influência para toda a crueza do som do death: riffs secos e diretos, ditos "dedo na ferida"; bateria furiosa, em andamentos na ordem dos 150 BPM; e vocais rasgados, ditando toda a crueza do estilo dali por vir.

No entanto, o estilo só veio ganhar ares de notoriedade - e, por que não?, virar death metal de verdade, já que até ali era praticamente thrash - em meados dos anos 1990, com o advento das bandas mais consagradas do estilo, como o Cannibal Corpse (que já teve participação nos filmes - quem diria! - de Ace Ventura, interpretado por Jim Carrey, fã confesso da banda), Carcass, Morbid Angel e Obituary, bem como o lançamento de outros discos brazucas que fizeram sucesso lá fora, os clássicos Arise e Chaos A.D., do Sepultura, respectivamente de 1991 e 1993.

Atualmente, existem muitos outros gêneros que surgiram como derivações destes dois. Podemos citar, entre estes, o death black metal, que une a sonoridade do death e atrela à temática do black - ou vice-versa, o viking metal, uma vertente iniciada pelo Bathory ainda nos primórdios do black e que une este estilo ao folk metal, com temáticas da mitologia nórdica, e o doom/death, uma mescla do andamento e dos riffs do doom metal (inspirados - quem diria! - na primeira era do Black Sabbath, ainda com Ozzy nos vocais) com a velocidade e os vocais guturais do death.