quarta-feira, 20 de julho de 2011

capítulo 7: run to the hills, here comes Black Sabbath

Não bastava ser técnico como o blues. Não bastava ser virtuoso como o jazz. Não bastava ser rápido como o rockabilly. Não bastava ser lisérgico como o psicodelismo. Ainda faltava ao hard rock um algo a mais. Um ar de protesto em plena Guerra Fria, com uma pitada de deboche, por vezes. Nascia, nos porões de um casarão da cidade inglesa de Birmingham, a banda que, me arriscaria dizer, foi a segunda banda mais influente da história do rock, imediatamente atrás dos Beatles. Mais que isso: a sonoridade sombria e soturna do Earth inauguraria o ramo de vertentes mais consistente do rock, ao qual hoje conhecemos por metal.

Black Sabbath: Bill Ward, Ozzy Osbourne,
Tony Iommi e Geezer Butler
Anthony "Tony" Iommi e William "Bill" Ward, respectivamente guitarrista e baterista do Mithology, certa vez, leram em uma loja o anúncio de um jovem cantor que desejava criar uma banda. O tal cantor, segundo Iommi (que estudou na mesma escola que ele), era "um completo inútil e péssimo vocalista", mas como eles queriam logo formar uma nova banda, acabaram aceitando a proposta. O tal cantor, John "Ozzy" Osbourne (Prince of fuckin' Darkness, se você assim o preferir), trouxe com ele mais dois guitarristas de sua antiga banda, Jimmy Philips e Terence "Geezer" Butler, tendo esse último assumindo o baixo para que a banda não contasse com um excesso de guitarristas. O Polka Tulk Blues Band, mais tarde encurtado para Polka Tulk, era uma banda essencialmente blues - tanto que até um saxofonista, Alan "Aker" Clarke, entrou no grupo. Philips e Clarke, no entanto, decidiram sair logo da banda, que teve seu nome mudado pra Earth, em 1968. O nome Black Sabbath veio de uma canção homônima composta por Geezer para o debut, que viria a ter o mesmo nome. A música é baseada no conto de terror I Tre Volti della Paura, do italiano Mario Bava, e transmitido nos EUA e na Inglaterra sob o nome que viria a ser da música. Os quatro primeiros discos da banda, ainda em sua formação original, Black Sabbath, Paranoid (1970), Master of Reality (1971) e Vol. 4 (1972) resumem-se em quatro dos maiores clássicos do heavy metal de todos os tempos.

Heavy metal... de onde surgiu tal expressão, que até aparecer com o Sabbath era insignificante? A primeira pessoa a fazer referência ao termo heavy metal, muito embora ainda dissociado do estilo em si, foi o escritor britânico William S. Burroughs, que atribuía o nome às drogas pesadas e seus respectivos usos. Na cultura hippie, o termo heavy era sinônimo de um som pesado. Por isso, toda aquela crueza inserida pelo Black Sabbath foi apelidada, anos mais tarde, de heavy metal. O estilo que ali surgia era basicamente um hard rock mais vibrante e rápido, porém menos virtuoso. A presença de palco viria a se tornar peça fundamental da consolidação da vertente ao vivo, em detrimento das características muitas vezes meramente visuais das bandas de hard. É bom também salientar que a aparente simplicidade do heavy metal fez surgir estilos ainda mais rápidos, técnicos e agressivos que ele próprio, como veremos em capítulos posteriores.

Judas Priest: Ian Hill, K. K. Downing, Scott Travis,
Rob Halford e Glenn Tipton
Ainda na Inglaterra, e ainda na cidade de Birmingham, viria a surgir outra as maiores expoentes do heavy metal por todo o mundo. O Judas Priest nasceu em 1969, sendo inicialmente formado pelo vocalista Al Atkins, o guitarrista K. K. Downing, o baixista Ian Hill e o baterista John Ellis. Responsáveis por discos memoráveis como British Steel (1980), Screaming for Vengeance (1982) e Painkiller (1990), assim como os hits Painkiller e Breaking the Law, o Judas Priest já foi (ou ainda é) a banda de personagens míticos da história do rock, como Tim "Ripper" Owens (ex-Iced Earth, atualmente com Yngwie Malmsteen), Glenn Tipton - que, junto com K. K. Downing, formou uma das duplas mais épicas e certamente uma das mais lembradas da história do rock - e Rob Halford, não raro figurante das listas dos melhores vocalistas da história. A grande sacada do Judas Priest foi aliar a sonoridade pesada e sombria do Black Sabbath com a melodia de Cream e Led Zeppelin, da década anterior. E não foi genial no sentido restrito apenas à sonoridade da banda, ou do acréscimo sempre bem-vindo ao som heavy metal surgido anos antes. O Judas Priest desencadeou uma grande mania, o heavy metal, que ainda se mantinha restrito à Inglaterra, embora algumas poucas bandas de fora fizessem um som parecido.

O movimento punk

A juventude européia estava bastante revoltada com a síndrome da Guerra Fria, que assolava em particular a Inglaterra desde o final da Segunda Guerra Mundial. Cansados da monotonia de composições progressivas e do non-sense psicodélico, alguns grupos de jovens resolveram cortar seus cabelos no estilo moicano (uma civilização que se desenvolveu na região da Polinésia, no sul do Oceano Pacífico, e que utilizava cortes de cabelo pouco usuais, com as laterais totalmente carecas e a faixa central preservada), rasgar suas roupas e difundir a teoria anarquista de Marx - não com o mesmo cuidado, claro. Nascia ali o movimento mais rebelde da história da música, o punk.

Ramones: Johnny Ramone, Tommy Ramone,
Joey Ramone e Dee Dee Ramone
O punk rock é caracterizado por acordes simples, quase sempre repetidos em toda a extensão da música - que por sua vez é curtíssima, raramente ultrapassa os quatro minutos -, letras que pregam a rebeldia e a liberdade de expressão e atitudes bastante agressivas nos palcos. Tal sonoridade pode ser entendida como derivações dos sons que o The Stooges e o MC5 faziam nos anos 1960, embora tal som ainda não fosse puramente punk. o punk propriamente dito nasceu com o Ramones e seu auto-intitulado de 1976 - Ramones esses que se sustentariam como a maior banda do movimento punk, juntamente com o Sex Pistols, o The Clash e o New York Dolls.

Justamente por sua demasia em simplicidade, muitas bandas apoiaram seu som no punk rock surgido na década de 1980. A completa oposição com o psicodelismo e o progressivo - até porque essa oposição foi justamente uma das bases do punk - fazia improvável qualquer tentativa de fusão dos dois estilos, mas o recém criado heavy metal parecia bastante atraente para tal. A fusão da crueza dos Ramones com o melodicismo do Judas Priest resultaria em uma das bandas mais consagradas de todos os tempos, cuja história se confunde com a própria história do heavy metal. Tal banda seria o carro-chefe do movimento que talvez foi o mais significativo na história do rock mundial, que levou o heavy metal para todo o mundo, atingindo desde as geladas Suécia, com o Europe, e Rússia, com o Aria, até o nosso Brasil tropical, com o Witchhammer e o Sarcófago, bem como nossos hermanos argentinos, com o V-8, ou mesmo o Canadá, com os poderosos sons do Anvil e do Exciter. No entanto, tal movimento fica pro próximo capítulo...

terça-feira, 19 de julho de 2011

capítulo 6: verde é o rock, amarelo também







Cansa ouvir que rock não dá certo no Brasil. Tudo bem, a cultura nacional parece até não ser contada por muitos episódios que envolvam o rock, mas eles existem e são importantíssimos; ademais, tudo depende de quem conta. Tentarei, sem deturpar ou aumentar sua influência sobre a vida de nossos compatriotas, mostrar quanto o rock foi capaz de mudar o estado de coisas neste país. O rock revolucionou cada canto do mundo de forma particular – no Brasil, a revolução não apenas se fazia presente pelas vias da música, sempre se fez necessidade de resposta numa terra em que as mazelas políticas e sociais são mais antigas que você e eu. O ápice do rock nacional, não por coincidência, está na crítica aos costumes e no teor predominantemente político.

Por aqui foi preciso um tempo para que o rock ganhasse contornos de movimento autônomo, quase duas décadas para que uma geração respeitável de roqueiros aparecesse. Antes disso, o ano de 1955 fica marcado pelo primeiro registro do estilo, acredite se quiser, na voz da cantora e sambista Nora Ney que resolvera experimentar uma pegada rockabilly, gravando Rock Around the Clock, de Bill Halley & His Comets para a trilha sonora de um filme em versão brasileira. Sua contribuição para o rock brasileiro se resume ao pioneirismo e só: nunca mais gravou nada no estilo. Estava lançada uma geração que aproveitou a oportunidade de experimentar nos discos algumas faixas de um tal de rock’n roll que dava certo lá fora e poderia dar certo aqui também: Cauby Peixoto, lenda-viva da luxuosa música dos bares, gravou o primeiro rock em português, Rock’n Roll Copacabana, da autoria de Miguel Gustavo, compositor com faro de oportunidade, autor de jingles e da célebre marcha Pra Frente Brasil que embalaria a campanha do tri-mundial. A primeira experiência rentável veio com os irmãos Tony e Celly Campelo que estouraram nas rádios com a canção Estúpido Cupido, até hoje lembrada pela grande mídia. De fato, a postura de nossos primeiros rockstars, se é que podemos chamá-los assim, em nada faziam lembrar a evoluída cena europeia e estadunidense, embora sua inspiração compositora residisse nesses lugares.

O ano de 1965 é fundamental para as pretensões do estilo por aqui. Vamos aos fatos: a televisão e o rádio ainda são duas invenções de enorme influência no mundo inteiro, naquela época eram novidades e já gozavam de muito prestígio tanto do grande público quanto dos investidores. Dois programas são lançados simultaneamente na TV Excelsior e na TV Record: o Festival de Música Popular Brasileira (em conjunto com outras emissoras) e a Jovem Guarda. Cada um teve trajetória distinta do outro, opunham uma exibição de caráter técnico, rara iniciativa que aliava o grande público a uma atmosfera de intelectualidade e crítica, com um movimento estático e apolítico, nascido para que as pessoas comprassem discos e mais discos e idolatrassem refrões de fácil assimilação em frente à TV. A ditadura militar fora instaurada no fim do ano anterior com a deposição de João Goulart e muitas áreas ligadas à cultura estavam sobre frequente vigia do DOPS, órgão responsável pela fiscalização de materiais “subversivos” contra a moral e o sistema nacional instaurado. O festival apresentava um molde sadio de competição entre grandes compositores e intérpretes, mas essa aparente inocência seria derrubada por episódios curiosos nos anfiteatros e o levante daqueles artistas, expostos em cadeia nacional com audiências absolutas, contra o regime. Dali despontaram nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Baden Powell, Vinícius de Moraes, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Nara Leão, Elis Regina e tantos outros.

Roberto Carlos
Jovem Guarda era um programa sobre rock de conteúdo despretensioso e detestável. Despretensioso porque, enquanto a classe da música popular engatinhava seu corajoso manifesto político, os reis locais do iê-iê-iê fingiam que nada acontecia ou pelo menos não faziam a menor questão de levar a público, através de sua arte, nossa decadente situação. Detestável porque empurrou a nós, brasileiros de nascença, um padrão de hábitos e costumes que há séculos rege a família norte-americana. Roberto Carlos, membro daquele clube supimpa e posteriormente maior nome da música brasileira, teve a brilhante ideia de compor coisas do tipo “primeiro foi Suzy (...) com a história do Splish Splash (...) quero consertar meu Cadillac (...) bye! bye!”. Acreditem, isso vendeu muito e até hoje vende em pleno sul da linha do Equador. Sob a alegação consistente de que essa música não representava a alma do povo brasileiro, alguns representantes da música popular brasileira participaram da curiosa “passeata contra as guitarras elétricas”. Se, por um lado, manifesto inocente pela preservação da identidade nacional através da música, por outro um sutil aviso de que era possível criar rock nosso e não apenas copiar. O programa Jovem Guarda acabou tarde, em 1968.

O rock meramente imitativo ganhava sérios opositores dentro do próprio rock, sendo seu maior representante também a maior banda de rock nacional: Os Mutantes nasceram em São Paulo, bairro da Pompeia, no ano de 1966, resultando da fusão entre o exímio guitarrista Sérgio Dias, a doce e intrigante voz e postura de Rita Lee e a viagem inspiradora das composições de Arnaldo Baptista. Falavam de amor, humor, absurdos e deboche, usavam da batida latina e do experimentalismo mais sem noção possível – chegaram ao cúmulo de ligar guitarras em máquinas de costura, o som ficou primoroso! – para transmitir sua filosofia simples. A genialidade desse grupo jamais foi reconhecida como se deve, rumando para o triste fim de muitas outras cabeças brilhantes da música brasileira: serem mais reconhecidos lá fora que no próprio país de origem. Já naquela época existia uma concorrência desleal por fatias de mercado com gente bem menos talentosa e bem mais popular. Mundo afora eles são citados como referência de atitude e criatividade, principalmente após o nevoeiro da ditadura militar baixar no início dos anos 90 é que foi possível dimensionar o tamanho de sua influência. John Lennon, Kurt Cobain e outros do mesmo naipe assumiram admiração pelo grupo.

O endurecimento do regime militar fez com que a música popular e o rock’n roll brasileiros passassem a trocar figurinhas, seus ícones diziam praticamente as mesmas coisas, só que de maneiras diferentes. Um raro encontro ideológico que me coloca a pensar com seriedade em tanta gente da minha geração que aprendeu a segregar com o taxativo de posers quem simplesmente se nega a produzir as coisas que eles não gostam de ouvir, por mais que suas convicções sejam idênticas. Nos anos 70, os artistas que flertavam com ambos os movimentos demonstravam no fundo a sensação de inconformismo que sempre pontuou o verdadeiro rock. Secos & Molhados se apresentavam de maneira ousada e irreverente, com maquiagens e figurinos extravagantes causando um choque de ridículo numa sociedade militarizada e ultracatólica. Sob a liderança de Ney Matogrosso, faziam um rock progressivo, folclórico, teatral, vibrante e quebrador de recordes: 700.000 cópias vendidas do álbum debut, um show histórico no Maracanãzinho para mais de 120 mil pessoas (três quartos delas ficaram do lado de fora) e sucessivas aparições nas principais emissoras de televisão. Outros bons grupos de progressivo foram Casa das Máquinas, Pão com Manteiga, Quaterna Réquiem, Piri, O Terço, A Barca do Sol e outros que não gozaram de muita sorte na grande mídia.

Raul Seixas
Goste-se dele ou não, entenda-se ou não sua mensagem, acredite-se ou não que ele desejava transmitir uma mensagem, o enigmático e debochado Raul Seixas, pai do rock nacional, também despontava para os brasileiros na década de 70. Mestre da antítese e da metáfora – “atenção, eu sou a mosca, a grande mosca que perturba o seu sono (...) eu sou o tudo e o nada” –, defendia a música simples e objetiva para se aproximar do povo. Desta sua busca pelas sentenças curtas e por um vocabulário que jamais necessitou de enfeites para dizer a que vinha, Raul exerceu certo incômodo nas classes intelectuais. Seu figurino mais lembrava um mendigo misturado com Jesus Cristo, um messias urbano despenteado, óculos escuros e um violão em punho. Não resta dúvida de que suas canções eram rock, porém não traziam a complexidade musical que o gênero costuma exigir, Raul foi um dos poucos artistas que se fez respeitar pelo conteúdo ideológico bem mais que pelo aparato instrumental. Fez enorme sucesso entre os jovens, afinal não é todo dia que alguém aparece fazendo canções geniais em três ou quatro acordes fáceis de tocar e cantar.

O rock ganharia seu maior apelo junto ao público nos anos 80, geração que Nelson Motta rotulara de BRock, uma mistura entre rock e pop cantado em português que, se olhado pelo viés político, não pode ser desprezada, acostumaram o brasileiro ao padrão vocal-guitarra-baixo-bateria e isso facilitou indiretamente o trabalho de todas as bandas que mais tarde viriam a se instaurar com essa formação clássica. Paralamas do Sucesso, Skank, Jota Quest, Capital Inicial, Kid Abelha e várias outras bandas oriundas desse período ainda se mantêm na ativa com bastante aceitação dos jovens tanto porque souberam manter uma fórmula que deu certo e não incomodava tanto quanto poderia, quanto pela ausência de gente que, dentro desse mesmo gênero, dissesse algo mais, algo diferente, ácido e estimulante. Mérito deles que atingiram um difícil lugar de destaque no pedestal dos intocáveis da Rede Globo fazendo, goste-se ou não, rock’n roll. Grandes cabeças surgiram também no rock nacional oitentista, mas farei menção a duas que talvez representem o ápice dos versos-protesto: Cazuza e Renato Russo, lendários compositores, intérpretes magníficos, cantores medianos, homossexuais e aidéticos assumidos que lavaram ao conhecimento público temas-tabu, até hoje evitados nas conversas íntimas das famílias mais conservadoras.

Polêmica capa de I.N.R.I.(1987) da
banda mineira Sarcófago
Na contramão do BRock, o hard e o metal só existiram e resistiram no Brasil em seus primórdios graças ao investimento de alguns corajosos e um público apaixonado, todos loucos e dedicados na tarefa de manter o rock pesado na ativa. Muitos deles são heróis anônimos, figuras urbanas que tiveram de encerrar o gosto pela música em troca de um emprego burocrático. Da cena paulistana brotava um som cru e até certo ponto ingênuo, onde bandas com grande potencial e muita vontade de fazer história como Vírus, Centúrias, Salário Mínimo, Santuário, Anthares, Harppia e Korzus surgiram. Ainda em São Paulo, no ano de 1984, o selo brazuca Baratos Afins (lendária loja que figura vívida no coração da Galeria do Rock) lançou a coletânea SP Metal, um split de algumas dessas bandas. É fundamental ressaltar que o Rock in Rio não passava de um projeto especulativo e nem a Rede Globo havia comprado a ideia do metal pesado, tudo era muito mais difícil e as injustas alegações de plágio da matriz estrangeira sofrida por muitos desses músicos cai vergonhosamente por terra. Já no metal extremo, não resta dúvida de que as Minas Gerais foram seu grande polo no país com especial contribuição do selo Cogumelo Records; da terra do pão-de-queijo nasceram grupos como Sarcófago – cujo polêmico álbum de estreia I.N.R.I. (1987) é tido como um dos mais importantes do black metal mundial –, Sepultura – cujos álbuns Beneath the Remains (1989) e Chaos A.D. (1993) são referências obrigatórias dos gêneros extremos –, Witchhammer, Mutilator, Sextrash, Chakal e Holocausto, entre outros. Somos exportadores também de metal melódico e o pontapé inicial foi dado pelos paulistas do Angra com o debut Angels Cry (1993), uma combinação atraente de timbres sinfônicos (na verdade teclados), bons refrões, algumas alegações descaradas de influência direta da música clássica (não passavam de trechos copiados e colados) e o talento de André Matos, cuja voz limpa e agudos impressionantes, reza a lenda, quase o levaram ao posto de frontman do Iron Maiden.

O verdadeiro rock persiste no Brasil em suas mais diversas vertentes e, a julgar pelo estado de coisas, a situação de tantos países ainda amordaçados em termos culturais por governos totalitários, penso que o rock nacional cumpriu bem seu papel nas eras passadas. Infelizmente o que hoje se chama de rock por aqui (happy rock?!) não estimula os neurônios, não tira a pulga atrás da orelha, não cria sangue nos olhos de ninguém. Sobre estas "vertentes" dispenso meu comentário ou faço minhas, com ressalvas, as tão frequentes críticas do roqueiro Lobão.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

capítulo 5: hard as a rock




Até meados de 1967 - que foi tido por muitos como o ano da psicodelia, por lançamentos como The Piper at the Gates of Dawn (Pink Floyd), Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (The Beatles), Disraeli Gears (Cream), os debuts de David Bowie e do The Doors, auto-intitulados, Are You Experienced? (Jimi Hendrix), Surrealistic Pillow (Jefferson Airplane), The Who Sell Out (The Who), Winds of Change (Eric Burdon & The Animals), entre muitos outros -, o rock era basicamente um blues mais acelerado, um skiffle mais técnico, pura lisergia psicodélica ou o rockabilly da década de 1950. No entanto, naquele ano surgiram algumas bandas que, de certa forma, formaram uma encruzilhada entre todos estes estilos que, até aquele momento, eram distintos. O Blue Cheer, o MC5, o Uriah Heep, o Mountain e o The Strooges foram algumas delas. Mas duas delas, em particular, definiram os rumos do que viria a ser conhecido posteriormente como hard rock, já que era visivelmente mais pesado que qualquer blues da época, além de ter uma dose de psicodelia.

Led Zeppelin: John "Bonzo" Bonham (acima), John Paul
Jones, Jimmy Page e Robert Plant
A primeira delas, o Led Zeppelin, foi formada em meados de 1968. Jimmy Page, que tocava com Chris Dreja em um grupo chamado The New Yardbirds (em referência ao grupo do qual Clapton tocou, na primeira metade da década de 1960), ofereceu a Terry Raid o cargo de vocalista de sua nova banda; este recusou, mas sugeriu que Robert Plant, o jovem vocalista do The Band of Joy. Este trouxe consigo o baterista John "Bonzo" Bonham, que não estava nos planos iniciais de Page - este havia pensado em B. J. Wilson, do Procol Harum, e Ginger Baker, que viria a sair do Cream um ano depois. Dreja decidiu seguir a carreira de fotógrafo, e então Page foi procurado por um velho amigo, John Paul Jones, que assumiria o baixo da nova banda, cujo nome, Led Zeppelin, era uma sugestão de Keith Moon (baterista do The Who), que achava que o The New Yardbirds mesclava o peso do chumbo (lead) com a graça de um zepelin (também conhecido como dirigível) ao voar.

Page, Plant, Bonham e Jones gravaram sete álbuns de estúdio e mais um ao vivo, sendo um oitavo disco de estúdio, Coda, lançado em 1982, dois anos depois da morte do baterista John Bonham, que culminou com o fim da banda, e outros dois discos de estúdio, BBC Sessions (1997, gravado nas turnês dos discos Led Zeppelin I e IV, em 1969 e 1971, respectivamente) e How the West Was Won (2003, gravado em 1972, na turnê do disco Houses of the Holy). Outras apresentações posteriores e comemorativas, como no Live Aid em 1985, foram gravadas com bateristas convidados - no caso, Tony Thompson, do Chic, e Phil Collins, do Genesis. Em 1988, com Tony Thompson na bateria, houve uma tentativa e volta da banda, mas um acidente de carro impediu Thompson de fazê-lo. Houveram ainda apresentações com o filho de John, Jason Bonham, e criou-se ainda uma expectativa de que ele pudesse assumir o posto do pai, o que não se concretizou. Atualmente, Page e Plant têm suas respectivas carreiras solo, e Jones e Jason Bonham tocam em dois considerados "supergrupos" que foram formados na década de 2000, respectivamente o Them Crooked Vultures e o Black Country Communion.

A segunda banda, o Deep Purple, também foi formada em 1968, de uma ideia bizarra. O baterista Chris Curtis, do The Searchers, formulou uma banda de nome Roundabout (carrossel, em tradução livre). Como o nome pode sugerir, Curtis queria que os integrantes remanescentes girassem em volta da bateria, como um carrossel que gira em torno de seu eixo. Talvez mais estranha que a ideia foi o fato de que um tecladista, Jon Lord, aceitou participar da "brincadeira". Depois de um tempo sem encontrar mais ninguém proposto a aceitar a ideia, Lord entra em no apartamento e se depara com as paredes cobertas com papel alumínio, e seu amigo Curtis havia simplesmente desaparecido. Lord, então, decide formar uma nova banda do zero: chamou o guitarrista Ritchie Blackmore, que por sua vez trouxe o baterista Ian Paice e o vocalista Rod Evans. Óbvio que o Roundabout havia acabado quando Curtis sumiu, sem sequer ter começado, e a banda precisava de outro nome. Deep Purple foi o escolhido, por sugestão da avó de Blackmore, já que a música homônima, de Bing Crosby, era sua favorita.

Deep Purple (MK II): Jon Lord, Ian Paice, Ian Gillan,
Ritchie Blackmore e Roger Glover
O Deep Purple teve várias formações diferentes. Essas fases foram divididas e nomeadas como "MKs", sendo ao todo 7 MKs diferentes. A mais clássica delas, a MK II (que contava com Ian Gillan nos vocais, Ritchie Blackmore na guitarra, Roger Glover no baixo, Ian Paice na bateria e Jon Lord nos teclados), gravou os discos mais clássicos da banda, In Rock, de 1970 (que catapultou o Purple de uma vez pro todas para o sucesso), Fireball, de 1971 e Machine Head, de 1972, certamente o maior clássico da banda e um dos maiores da história do rock - os hits Highway Star e Smoke on the Water embalam ainda hoje aberturas de shows pelo mundo todo. Ao todo, foram 18 discos de estúdio e mais 35 discos ao vivo - incluindo-se aí vários bootlegs das mais diferentes fases da banda que foram remasterizados e lançados como discos ao vivo posteriormente.

O hard rock veio a ser um sucesso imediato, visto que sua origem bastante diversificada permitiu-o abranger os mais variados gostos musicais dentro do rock. Tal ecletismo ainda permitiu aos músicos do hard fusões pouco encontradas anteriormente, como o funk/soul do Deep Purple em Maybe I'm a Leo (do disco Machine Head) e o blues-rock do Led Zeppelin em seu Led Zeppelin I. O rock, àquela altura, firmava-se como o estilo musical com a maior diversidade cultural de toa a história, com sons que iam desde o pop psicodélico das bandas do Krautrock (com destaque ao Kraftwerk e ao Tangerine Dream) até o primeiro passo do que viria a ser o metal, com bandas que começavam a introduzir o conceito de "peso" à música, como o The Who.

Outro passo importante do hard rock foi que, pela primeira vez na história, o rock passou a não se resumir tão somente no eixo EUA-Inglaterra. Desde que o blues surgiu no delta do Mississippi, nenhuma outra banda havia surgido fora da terra do Tio Sam e de seus respectivos colonizadores. Agora, outros países, até então meros espectadores do circo chamado rock, passaram ao centro do picadeiro: a Escócia revelou ao mundo o Nazareth, que anos depois levaria seu principal hit, Love Hurts, às paradas de sucesso do mundo todo, embalando os casais apaixonados com uma das músicas mais relevantes do chamado Love Metal; da Irlanda veio o Thin Lizzy, que revelou ninguém mais ninguém menos que Phil Lynott e Gary Moore, além da excelente versão da música tradicional irlandesa Whiskey in the Jar, que ficou famosa no cover do Metallica; um trio canadense, o Rush, também bebeu da fonte hard rock, antes de virar-se para o rock progressivo.

Mas é da Austrália que veio a maior sensação da primeira fase do hard rock, talvez a maior banda do estilo. Nascido em 1973, o AC/DC foi formado pelos irmãos nascidos em Glasgow, Escócia, Malcolm e Angus Young. Seu irmão mais velho, George, foi o primeiro a aprender a tocar guitarra, chegando inclusive a tocar no Easybeats, que foi uma das grandes bandas australianas da década de 1960. Embalados pelo voo do irmão, os dois jovens (sem trocadilhos) Young decidiram formar sua própria banda. E a inspiração para o nome veio da Máquina de costura de sua irmã mais velha, Margaret Young. Segundo consta na maioria das fontes, Malcolm teria visto uma inscrição AC/DC (alternate current/direct current, corrente alternada e corrente contínua) na parte de trás da máquina. (Há quem diga que seja uma sigla para Anti-Christ/Dead Christ, Anticristo/Cristo Morto, burburinho que aumentou ainda mais com a composição do primeiro sucesso a nível mundial da banda, Highway to Hell, de 1979). A banda é detentora do título de recordista no número de vendas em um único disco na história do rock, seu álbum clássico Back in Black, de 1980, com cerca de 50 milhões de cópias vendidas - na história da música, ainda há o Thriller, de Michael Jackson, que superou a faixa dos 100 milhões de cópias vendidas.

Já nos anos 1980, prevaleceram as bandas de hard rock que seguiam fielmente ao famoso lema "sexo, drogas e rock 'n roll" - é bem verdade que algumas bandas abriam mão de um ou outro parâmetro, como o Stryper deixou de lado o sexo, os Scorpions abriram mão das drogas e o Bon Jovi menosprezou o rock 'n roll, depois do grande clássico dos anos 1980 Slippery when Wet e seu hit Livin' on a Prayer. Os anos 1980 do hard rock também se caracterizaram pelo excesso de baladinhas por parte das bandas do estilo: a já citada Love Hurts, do Nazareth, Always, do Bon Jovi, Beth, do Kiss e Bringin' on a Heartbreak, do Def Leppard, são exemplos dessa fase "romântica" do hard rock. Mas uma banda, em especial, conseguiu um sucesso estratosférico com tais baladinhas.

Scorpions: Herman Rarebell, Rudolf Schenker, Klaus Meine,
Matthias Jabs e Francis Buchholz
Os Scorpions foram formados na cidade de Hannover, antiga Alemanha Ocidental, no ano de 1965. O guitarrista base e fundador da banda Rudolf Schenker juntou-se a amigos de escola e tocavam pelos bares da cidade, ainda sem nome. O nome Scorpions veio mais ou menos em 1970, quando seu irmão mais novo, à época com apenas 14 anos, Michael Schenker, que tocava no The Mushrooms, e seu amigo vocalista Klaus Meine se juntaram à banda. Michael deixou a banda para integrar o UFO três anos depois, deixando gravado um único disco, o Lonesome Crow, de 1972. Com isso, os Scorpions se fundiram à Dawn Road, uma pequena banda de Dusseldorf. O guitarrista Ulrich "Uli Jon" Roth gravou com os Scorpions clássicos absolutos da banda, que à época ainda era adepta de um hard rock com flertes bem significativos com o psicodelismo e o progressivismo. Após gravar o excelente disco ao vivo Tokyo Tapes, Uli deixa a banda, dando lugar ao jovem guitarrista Matthias Jabs, um ex-jogador de futebol que aprendeu a tocar guitarra enquanto se recuperava de uma contusão. Com ele na lead guitar dos Scorpions, a banda compôs clássicos absolutos do rock, desde o hino Rock You Like a Hurricane até as super baladinhas Always Somewhere - que, dizem alguns, é plágio de Simple Man, do Lynyrd Skynyrd -, Believe in Love e o hit Still Loving You. Nos anos 1990, passaram a tratar de causas humanitárias, como em Wind of Change, com o novo mundo que surgia após o movimento da perestroika, proposto por Mikhail Gorbatchev.

Mötley Crüe: Vince Neil, Nikki Sixx,
Mick Mars e Tommy Lee
Houve ainda uma subvertente do hard rock que merece atenção especial. Estes caras levaram ao cúmulo o uso do bordão citado no parágrafo anterior, ainda que suas performances um tanto suspeitas e seus rostos e cabelos cheios de maquiagem, laquê e purpurina possam dizer o contrário. O glam metal nasceu em meados de 1981, com o Mötley Crüe, embora bandas como o Kiss e o Aerosmith já trouxessem características glam desde os anos 1970. Muitas dessas bandas traziam toda a androginia de David Bowie, aliados com uma figura quase que caricata do que Alice Cooper fazia de suas apresentações nos anos 1960. Enquanto algumas bandas, como o Europe, não se faziam valer tanto das características visuais, por assim dizer, do estilo, outras, como Poison, Ratt, o já citado Mötley Crüe e Twisted Sister, abusavam da maquiagem e de posturas que, não raro, beiravam ao ridículo. Tal postura rendeu ao glam os adjetivos depreciativos de hair metal e false metal. No Brasil, há quem use o termo metal farofa.

Apesar de riquíssimo, o hard rock não foi o único estilo surgido das diversas vertentes dos anos 1960. Uma banda de Birmingham viria a disseminar, no começo os anos 1970, o som do Led Zeppelin aliado à crueza de um som quase cadavérico. Posteriormente, um movimento surgido na Inglaterra viria a abalar toda a base do que conhecemos atualmente por metal. Mas isso é história para um próximo capítulo...

domingo, 17 de julho de 2011

capítulo 4: azedos feito chucrute, competentes feito poucos







Quase todos os países têm alguma participação na história da música. Alguns deles se sobressaem, mas nenhum chega aos pés da Alemanha, que há séculos ensina como produzir música refinada. Ali nasceram brilhantes cabeças do passado: Bach, Schumann, Telemann, Händel, Wagner, Bruch, Mendelssohn, Beethoven, entre outras. No caso da música popular e do rock’n roll em particular, a contribuição germânica não haveria de ser menos significativa.

Terminada a Segunda Guerra Mundial em meados dos anos 40, a Alemanha saía destruída e um amargo sentimento imposto pela derrota se contrapunha ao nacionalismo vibrante de outrora. Seu território fora partilhado em quatro zonas de ocupação administrativa sob os cuidados de França, Reino Unido, Estados Unidos e União Soviética. A influência estadunidense, como de costume, impôs àquela nação em ruínas não apenas tanques de guerra, mas hábitos de vida, consumo e cultura que seriam a marca indelével dos povos ocidentais na segunda metade do século XX. A geração posterior à rendição nazista testemunhou o nascimento de um mercado fonográfico local entupido por valores estéticos anglo-saxões, dentre eles o rock’n roll. Aquela música revolucionária e dançante percorria o mundo de diferentes formas, chegando como novidade dramática aos ouvidos alemães.

Adolf Hitler (1889 - 1945)
A princípio alguns protestos da classe intelectual contra aquela injeção de rock nas veias sonoras da nação. Protestos inúteis porque em cada esquina das grandes cidades era possível encontrar admiradores de Chuck Berry e imitadores de Elvis Presley. Muito melhor seria reconstruir a fragilizada identidade do povo alemão através do rock, utilizar dos meios invasores para contestar a própria invasão; é dessa tomada de consciência sobre o inevitável que surge o rock alemão. De certa forma, o rock alemão já nasceu contestador, pregando valores progressistas, respondendo a realidade artística europeia e americana com material próprio, rompendo com a música folclórica e propagandística que insistia nas televisões e rádios locais, herança maldita do terceiro Reich. Os trabalhos do crítico e multi-instrumentista Karlhein Stockhausen foram fundamentais na pesquisa e divulgação do gênero, ainda limitado por paradigmas de um sistema educacional falido que educava a juventude hitlerista, por exemplo, para queimar livros considerados subversivos. Se o rock’n roll não se instaurou democraticamente naquele lugar, pelo menos ajudaria a compensar os atrasos de uma sociedade ilhada.

Após necessária estagnação nas exportações daquele lugar, uma interpretação particular do psicodelismo e do rock progressivo começava a surgir e chamar a atenção do mundo inteiro: o krautrock – kraut foi o insulto cunhado pelos ingleses para descrever aqueles “azedos feito chucrute” (sauerkraut). O som também levava o nome de rock, mas diferia radicalmente do rock feito em outros lugares, as bandas mantinham postura radical e investiram na superação do vergonhoso passado recente alemão, fazendo renascer nas artes aquela identidade nacional cambaleante. Bandas como Amon Düül (I & II), Krokodil, Can, Birth Control, Ash Ra Tempel, Berluc, Faust, Tangerine Dream e Neu! descartavam toda a base melódica que ingleses e italianos tanto adoravam, em vez disso procuravam um som mais sóbrio, racional, baseado no timbre e na economia de motivos. É bem verdade que os álbuns lançados por estas bandas tinham alto grau de distinção entre si, mas pelos elementos supracitados e pela nítida proposta de contracultura, merecem ser todos classificados como krautrock.


Kraftwerk: Ralf Huttter, Karl Bartos, 
Wolfgang Flür e Florian Schneider
No fim dos anos 60, havia público interessado em trabalhos de krautrock e o mercado de revistas e selos especializados voltava a lucrar. O exemplo de estabilidade da Deutsche Grammophon, gravadora mais antiga do mundo ainda em atividade, encorajava o investimentos em modernos estúdios e equipamentos não só de gravação, mas concepção de novas músicas. Brain, Ohr e outras gravadoras repetiam o bem-sucedido modelo europeu de levar jovens promissores e suas bandas para sessões de reconhecimento de materiais de sintetização mais caros que automóveis. A prosperidade da cena alemã ainda precisava de um encontro fatídico com o resto do mundo. Ralf Hutter e Florian Schneider, ex-alunos de Stockhausen, fundariam o Kraftwerk e romperiam com o passado da maneira mais óbvia possível: olhar para o futuro.

Autobahn (1974) é o quarto álbum de estúdio do Kraftwerk e reformula o papel da tecnologia na sociedade de então. Na mensagem profética do Kraftwerk, a tecnologia não apenas se restringia aos estúdios para ser dominada por uma elite intelectual, mas seria o futuro da humanidade, o nascer de valores morais e estéticos baseados em suas facilidades. O progresso do homem passava por veículos motorizados e auto-estradas (autobahn) que retalhariam as nações para sempre e isso foi cantado em climas cósmicos, viajantes, estimulantes, típicos do rock progressivo. Die Mensch-Maschine (1978) e Computerwelt (1981) abordam os dilemas sociais e filosóficos entre homem e máquina, criatura que substituía com elegância o trabalho braçal do criador e, por que não?, seus esforços intelectuais em inocentes algoritmos que a inteligência artificial desenvolvia. Os Kraftwerk são considerados também pais da música eletrônica porque se preocupavam bastante com o visual das apresentações, não tinham a menor vergonha de levar pesados equipamentos eletrônicos para onde quer que fosse e, como por ironia, todo aquele pragmatismo e repetição dos robots também faria sucesso nas discotecas.

Com vistas para o mercado internacional, não tardaram em surgir as primeiras bandas de hard rock alemão, desta vez com uma proposta bem mais parecida com o que se fazia no resto do mundo. Dali surgiram as bandas Pink Cream 69, Frontline, Zeno, Jaded Heart e Mad Max, entre outras, que lançariam excelentes trabalhos. Mas nenhuma outra fez tanto sucesso quanto os Scorpions, um grupo raro e talentoso que conseguiu adequar seu som ao longo dos anos e emplacar hits atrás de hits nas rádios do mundo inteiro. Amantes de ou leigos em rock que não tenham se isolado numa caverna há mais de trinta anos certamente já ouviram “Rock You Like a Hurricane”, “Winds of Change”, “Moment of Glory” e “Send me An Angel”. A banda surgiu em Hannover na década de 60, fundada pelos irmãos guitarristas Michael Schenker e Rudolf Schencker e a feliz escolha pelo vocalista Klaus Meine. Tokyo Tapes (1979) mostra ao mundo um grupo entrosado e brilhante que se sagraria, sem sombra de dúvidas, a maior referência de rock’n roll alemão de todos os tempos.

Após o dito resgate cultural, a divisão política parece ter sido outro fator de estímulo aos artistas. Se observarmos de perto as produções das “duas Alemanhas”, notaremos ideias libertárias quase iguais com oportunidades diferentes de serem expostas. Assim, o mercado oriental jazia hermético em plenos anos 80, até existiam grupos de sucesso vindos dali, mas eram poucos. Por outro lado, musicólogos e curiosos têm descoberto uma Alemanha soviética que desenvolveu, dentro de suas limitações, uma impressionante cultura underground e bandas de garagem de enorme potencial que acabaram nos primeiros trabalhos – e que trabalhos! De volta ao lado ocidental do muro, o heavy metal tradicional ganhava clássicos inigualáveis como Restless and Wild (1982) do Accept e Heavy Metal Breakdown (1984) do Grave Digger e Death or Glory (1989) do Running Wild. Por mais tradicional que fosse até então, o metal teutônico flertava discretamente com outras vertentes embrionárias.

Helloween: Kai Hansen, Ingo Schwichtenberg,
Markus Grosskopf, Michael Weikath e Michael Kiske
Uma dessas vertentes é o power metal, combinação de velocidade instrumental, sons melódicos e temas épicos que se desenvolveu em alguns álbuns modestos e coletâneas (uma opção barata para que duas bandas ou mais lançassem suas músicas de trabalho e partilhassem despesas de divulgação e turnê). No entanto, foi o Helloween que deu ao gênero uma formatação definitiva com os álbuns Keeper of The Seven Keys 1 e 2 (1987-1988), aliviando a sujeira nas guitarras e usando bastante teclado. O genial Kai Hansen dava lugar nos vocais a Michael Kiske, então com 18 anos, cujo modo de cantar seria referência no gênero. Outros bons grupos alemães do estilo são Blind Guardian, Gamma Ray e Primal Fear, entre outros. Ao aliar peso e melodia com rara inteligência, Helloween influenciou outros grupos que fariam um som chato, previsível e melado. Penso que uma banda tão boa deveria ter melhor sorte em suas influências futuras. Outra vertente de particular sucesso por lá é o thrash metal, iniciado pelo Holy Moses e pelo Destruction. A princípio tudo era muito parecido com a cena dos EUA e da Inglaterra, mas em pouco tempo experimentava o mesmo nível de independência alcançado por outros gêneros. Persecution Mania (1987) do Sodom e Pleasure to Kill (1986) do Kreator exemplificam a característica mais ilustre do thrash germânico: sua comunicação acima da média com o death em riffs crus e temas destruidores.

Talvez por isso os anos 90 representem a decadência do estilo, ofuscado por sons mais leves e atrativos para o grande público, donde resultam incursões lamentáveis no punk rock, gótico e industrial. Boa exceção é o pessoal do Tankard que se mantém fiel ao estilo original e jamais ficou três anos seguidos sem lançar um disco de inéditas. Os últimos anos têm sido fundamentais para a recuperação e evidência do rock alemão. A segunda maior economia do mundo oferece suporte a uma dezena de mercados distintos, coexistindo sucesso de grupos tão distintos quanto Tokio Hotel, Tomte e Rammstein, a chamada neue Deutsche musik.

Quando adolescente, estudei música com alemães intercambistas. Minha impressão após o primeiro contato é que naquele país se bebia outra água, nada justificava que outros adolescentes soubessem tanto da música de sua pátria sem uma educação formal para tanto. Anos mais tarde descobri que eles preservam a história de seus compositores nas escolas e se gabam deles para o resto do mundo (igualzinho procedemos com Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, José Maurício Nunes Garcia ou Carlos Gomes, né?). Lá muitas bandas de garagem são incentivadas a continuar seus trabalhos porque, no entender daqueles governantes, elas promovem a cultura local e merecem, mediante comprovação, incentivos financeiros iniciais (igualzinho os políticos daqui, né?). A história do rock alemão é fonte de aprendizado para o mundo inteiro, em particular para os brasileiros.

sábado, 16 de julho de 2011

capítulo 3: a ultrapassagem interestelar







Imagine-se num pub inglês dos anos 60, rodeado de gente, letreiros em neon, cerveja e alguma banda de moleques ao fundo. Este é um bom ponto de partida para o tipo de ambiente onde se desenvolveram o psicodelismo e, em maior grau, o rock progressivo. Se você levar em consideração que três invenções – rádio, televisão e guitarra elétrica – ainda soavam como novidades para a sociedade de então, pode deduzir a regra de ouro da produção musical de então: extrapolar os sentidos com imagem e som. No caso do psicodelismo, os elementos sonoros e visuais visam intimidar o ouvinte e fazê-lo tornar a si mesmo em sensações como loucura, melancolia, obsessão, alucinação, encantamento e dúvida. Ao passo em que os músicos experimentavam novas sonoridades, também a técnica evoluía, foram eles os primeiros usuários de muitos aparatos que hoje consideramos triviais. Impressiona como aquela geração extraiu de cada novo sintetizador lançado uma nova sonoridade, tudo era extremamente valorizado e digno de ser testado.

E toda aquela revolução começou no pátio da Regent Street Polytechnic, em Cambridge, Inglaterra. Roger Keith 'Syd' Barrett, Richard William 'Rick' Wright, George Roger Waters, Nicholas Berkeley Mason e Bob Klose juntaram-se em 1964 para fazer um som psicodélico, baseado em distorções de sintetizadores, equalizações desiguais das saídas de áudio e, principalmente, muitas alucinações que Barrett, o principal compositor, tinha em seu uso de substâncias psicotrópicas, em particular o LSD. Klose, que queria uma sonoridade mais calcada no jazz, saiu pouco tempo depois de ter gravado uma demo, seu único registro na banda. Nascera ali o quarteto que revolucionaria a música, dando ao rock um design totalmente inovador: o Tea Set, que depois mudou o nome para The Pink Floyd Sound até, finalmente, chegar em Pink Floyd - uma homenagem de Barrett a dois blues man, Pink Anderson e Floyd Council. Assim, Syd Barrett (guitarrista e vocalista) assumira a posição de frontman e principal compositor, enquanto Roger Waters assumiu o baixo e os backing vocals, Rick Wright, o teclado e backing vocals e Nick Mason, a bateria. Fizeram sua fama entre 1965 e 1966 nos bares ingleses, em particular no Marquee Club, que já era o principal ponto de encontro dos roqueiros londrinos.

Capa do disco Dark Side of the Moon
(1973), do Pink Floyd
Sua sonoridade era tão impressionante que conseguiu arrebatar até os já renomados Beatles, sendo uma fortíssima inspiração para o Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, isco esse que saiu paralelamente ao debut do Floyd, em 1967. The Piper at the Gates of Dawn foi gravado em uma das salas dos estúdios Abbey Road, ao lado dos Beatles, que gravavam o Sgt. Peppers. As bandas conversavam entre si nos corredores do estúdio, o que, e certa forma, teve uma influência recíproca entre eles. Não seria exagero nenhum taxar os discos de irmãos por tais características comuns, sendo ambos o pontapé inicial da corrente psicodélica que estava por vir.

Com a revolução proposta pelo Pink Floyd e catapultada às rádios pelos Beatles, não demorou a surgirem bandas que despontassem no cenário psicodélico, como Beach Boys, The Byrds, The Temptations, Moody Blues, Procol Harum, Jethro Tull e Focus, entre outras. Três trabalhos merecem destaque pela sua nítida ligação com a sofisticação da música clássica e do jazz: Procol Harum, que ornamentava suas canções com instrumentação erudita e sons de órgão, dando uma sensação de grandiosidade e lirismo; Beach Boys, autor de Little Deuce Coupe, o primeiro álbum conceitual da história que narrava em 12 faixas a cultura automobilística estadunidense; e Focus, com seu Focus III, que fazia referência à arte da fuga de Bach e à ópera de Verdi, entre outras influências. No fim dos anos 60 e início dos 70, algumas versões alternativas de Bach, Vivaldi, Rossini, Dvorak, Stravinsky e outros compositores clássicos tinham sido gravadas, geralmente com distorções sonoras, alterações na fórmula de compasso e improvisações em determinados trechos. Diferentemente do movimento neoclássico que surgiria décadas depois, os psicodélicos faziam uma releitura mais franca do passado na posição de intérpretes, sem partirem para a cópia e cola descarada de escalas, arpejos e temas de séculos atrás.

Algumas bandas já consagradas em outros estilos tiveram que se render ao apelo crescente de público e crítica por esse tipo de som, como fizeram os já citados The Beatles em seu genial Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club. Ora, estamos falando de psicodelismo ou rock progressivo? Muito provavelmente estamos falando das duas coisas porque é difícil destacar o momento exato em que este derivou daquele. A teoria corrente diz que o termo “rock progressivo” surgiu quando jornais da época não souberam definir que som fazia um tal de King Crimson, num show de abertura para os Rolling Stones no Hyde Park (1969), dando este nome ao que milhares de pessoas ouviram naquele festival. Se misturarmos a inteligência e complexidade da música clássica, o requinte e liberdade do jazz, um pouco da improvisação e virtuosismo do blues, a temática quase alucinógeno-lisérgica do movimento psicodélico e muito de rebeldia e contestação, teremos a combinação que fez efervescer o rock progressivo. A grande diferença do rock progressivo em relação a seus predecessores (sem pleonasmos) é que ele nasceu para ser rock’n roll. Ali sobrava técnica, mas o foco estava na atitude. Algumas bandas e músicos nasceram no rock progressivo e outros migraram do psicodelismo, dentre as quais Yes, Genesis, Jethro Tull, King Crimson, Led Zeppelin, Renaissance, Bob Dylan e Jimi Hendrix.

A cena underground de rock progressivo brigava bastante contra uma série de dogmas, segundo os quais esse tipo de música só poderia ser feita por gente altamente especializada em música e que dispusesse de instrumentação caríssima para aquela época. Era frequente um esforço conjunto para que equipamentos de distorção fossem adquiridos em conjunto e compartilhados em sessões cronometradas, a fim de que muitos pudessem experimentar fazer música própria em diversos sons e texturas. Existia uma preocupação quase obrigatória não apenas em produzir e lançar trabalhos, mas voltar a atenção para o processo criativo e aprender com ele. Os resultados quase sempre eram primorosos e apresentados em estúdios repletos de aparelhagem grosseira, então evoluíam para sons mais bem estruturados e já estavam prontos para serem tocados em qualquer lugar. Essa dinâmica aparentemente inocente da produção de música psicodélica e rock progressivo foi se especializando ao ponto em que empresários frequentavam essas brainstorming sessions em busca de talentos genuínos. Era tão fácil beber da fonte do rock progressivo e replicar, com algum investimento, suas principais ideias criativas que muitas bandas novas mal saíram do primeiro álbum, sob alegação de mero continuísmo do que haviam feito Pink Floyd, Yes e Genesis.

Se, por um lado, era fácil compreender o que se passava nas mentes progressivas, por outro lado a alta exigência técnica ainda limitava o nascimento de muitas bandas de garagem do estilo. Afinal de contas, três ou quatro acordes não bastavam para se compor na lógica progressiva, era preciso estudar tanto quanto um músico erudito e encarar corajosamente um mercado com dinossauros consolidados e a pleno vapor. Três cenas regionais se destacaram nesta época: a inglesa, onde tudo começou e cujo som privilegiava a melopeia e o ar sinfônico; a italiana, que legou a seu modo grandes bandas como Le Orme, Semiramis, Premiata Forneria Marconi, Semirami e Banco del Mutuo Soccorso, geralmente calcadas nos compositores italianos e numa música mais dramática e virtuose, oposta à inglesa; a alemã que conseguiu produzir uma sonoridade muito racionalizada e voltada para a economia de motivos, também legando bandas de excelente nível como Amon Düül (I & II), Krokodil, Can, Birth Control, Ash Ra Tempel, Berluc e as de veia eletrônica Tangerine Dream, Neu! e Kraftwerk. No Brasil, a tradição do gênero passa por grupos extravagantes, de crítica social apurada, discursos absurdos e folclore. O cenário nacional foi rico e evitou ao máximo copiar os cânones que faziam sucesso na Europa, mas, como se sucede a muito do bom rock feito por aqui, caiu no esquecimento. Bandas como Casa das Máquinas, Pão com Manteiga, Secos e Molhados, Quaterna Réquiem, Os Mutantes, Piri, O Terço e A Barca do Sol criaram álbuns que até hoje são referência no quesito originalidade.

Capa do disco Octopus (1972),
do Gentle Giant
As artes de capa são muito importantes no rock psicodélico e progressivo, elas precisam ser suficientemente descritivas em relação ao que está contido no álbum ou, por outro lado, deixarem o ouvinte curioso para saber o que vem. Costumam ser figuras cheias de cor, cenas surreais abusando de “várias geometrias” num mesmo encarte. Os trabalhos costumam ter pelo menos uma composição instrumental de longa duração (referência mais que óbvia à música clássica) sob a premissa de ser impossível fazer uma viagem sonora decente em curto espaço de tempo – definitivamente o rock progressivo não exige pressa alguma de seus ouvintes (a ideia de tornar as coisas mais velozes e agressivas firma-se no rock com muito mais tardar). Embora alguns vocalistas de progressivo tenham se notabilizado pelas performances, estatisticamente maior mérito recaiu sobre os músicos. Não à toa, as letras optam pela repetição, objetividade, entoadas com vagar e boa dicção. Num mesmo trabalho é possível identificar dezenas de sons diferentes: instrumentos, matizes, sintetizações, afinações, ruídos cotidianos, tudo serve aos propósitos da experimentação sem limites. Detalhes como harmonias incomuns, vocalizações, ecos, síncopas e equalizações propositalmente desiguais nas caixas de saída – que o diga Interstellar Overdrive, do Pink Floyd – tornam tudo ainda mais inebriante. Os sujeitos musicais são complexos e servem de base para solos gigantescos de quase todos os instrumentos.

Ainda existe uma boa quantidade de grupos fazendo música psicodélica e progressiva por aí, todos ainda muito calcados na proposta original e mantendo a qualidade que sempre caracterizou estes movimentos. Outras modalidades surgiram, focadas principalmente na necessidade de álbuns mais pesados, modernos e conceituais, e reveleram ao mundo bandas do naipe de Queensrÿche, Dream Theater, Ayreon e Symphony X. Pelas razões aqui expostas, seria polêmico, jamais absurdo, afirmar que o rock progressivo foi a maior bênção da música contemporânea. Mas a mesma Inglaterra, que radicalizou totalmente o blues elétrico que Waters havia trazido 10 anos antes criando sonoridades bem distintas entre si, ainda não estava satisfeita. A repressão aos grupos jovens fez aumentar ainda mais a rebeldia, e disso surgiu uma sonoridade totalmente única, agora acompanhada também por alguns jovens da Alemanha Ocidental, que buscava uma maior aproximação com o lado Oriental, desmembrado do país após a Segunda Guerra. Isso, no entanto, fica pro próximo capítulo...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

capítulo 2: os reis do iê iê iê




O blues de Muddy Waters estava se tornando cada mais rápido entre os músicos americanos. Isso se deveu ao fato de que o delta do Mississippi, e em particular a cidade de New Orleans (que viria a se tornar um dos principais pólos culturais da América) estava sendo atingido em cheio pelo jazz advindo dos atuais estados do Alabama e da Geórgia, além da country music, vinda do wild west norte-americano, em particular do Texas e da Califórnia.

É interessante também atentar para o momento político dos EUA à época. O rock 'n roll traduziu-se como uma mistura de ritmos "negros" (como o blues) e a música "branca" (em particular o country), justamente em uma época em que a segregação racial estava tomando forma nos Estados Unidos. A música, muitas vezes, servia como protesto dos negros em questão, como Louis Jordan, um dos poucos negros dos primórdios do rockabilly/rock 'n roll que conseguiu fazer algum sucesso. Ainda assim, muitas das suas composições eram de músicos brancos, como seu sucesso Choo Choo Ch'Boongie. Por todo o conservadorismo da época, o rock 'n roll ainda não tinha engrenado, e um dos poucos que dava apoio ao ritmo nas rádios era o DJ Alan Freed, também conhecido como Moondog, que tocava na rádio WJW, em Cleveland, Ohio. Até que um certo branco, ex-caminhoneiro, mudaria toda a história, não só do rock 'n roll, mas do rock como um todo.
Elvis Aaron Presley (1935 - 1977)

Elvis Aaron Presley nasceu no estado americano do Mississippi. Sua família sempre foi muito pobre, o que se agravou ainda mais quando um tornado atingiu sua cidade, Tupelo, em 1936, quando Elvis tinha apenas alguns meses de vida. Assim cresceu o jovem Presley, até que, em 1945, aos 10 anos, Elvis leva o segundo lugar na Feira Mississippi-Alabama, o que lhe rendeu um prêmio de cinco dólares e ingressos para os brinquedos do parque. Apesar de ser relativamente pequeno, tal fato mudaria para sempre a história de Elvis, que ganhara um violão de seu pai naquele mesmo ano como presente. Elvis foi tomando gosto pela música, principalmente pelo country, pela música gospel e, eventualmente, obras eruditas, como as óperas que o tenor Mario Lanza, seu maior ídolo, cantava. Em 1953, tal aptidão musical o levou a gravar seus primeiros registros, ainda experimentais, em um estúdio da Sun Records. Em julho do ano seguinte, ele grava suas primeiras músicas profissionalmente, "That's all Right, Mama", de Arthur Crudup, e "Blue Moon of Kentucky". Na ocasião, ele conhece o guitarrista Scotty Moore e o baixista Bill Black, que seriam seus fiéis escudeiros nos anos subsequentes.

Apenas dois dias depois de gravadas, as músicas já faziam sucesso nas rádios locais. No dia 16 de outubro, Elvis teve um de seus shows transmitido por uma rádio local, que foi, de fato, o primeiro passo em direção ao seu sucesso. Vários shows, subsequentes a esse, eram transmitidos nas rádios e na televisão, aumentando ainda mais seu sucesso, em particular em razão das garotas, que o apelidaram de "Elvis the Pelvis" em razão de seu gingado. Dali para a primeira música Top 1 nacionalmente, "I Forgot To Remember To Forget", foi apenas questão de tempo. E mais que simplesmente um cara talentoso com um rebolado bacana, Elvis mexia também com o ego dos mais conservadores musicalmente, sabendo-se que ele foi um dos pioneiros da já descrita fusão de ritmos até então segregados. Isso aumentou ainda mais sua popularidade. Elvis também revelou-se um excelente ator: os filmes "Jailhouse Rock" e "King Creole" foram um absoluto sucesso. Àquela altura, a alcunha de Rei do Rock, que o acompanha até os dias de hoje, já era entoada em coro uníssono em seus shows.

Um fato alteraria totalmente sua vida e sua carreira: em 1960, Gladys Love Smith Presley, sua mãe, falecera, justamente no momento em que seu único filho alcançara o ápice em sua carreira musical e cinematográfica. Ainda assim, Elvis grava alguns de seus melhores discos na década de 1960, como Viva Las Vegas, trilha sonora do filme homônimo que é tido como um dos clássicos de sua carreira. Houve até um breve encontro com a mais nova febre na Inglaterra, os Beatles, em 1965. Infelizmente, nada foi gravado desta ocasião histórica. Em 1969, depois de 8 anos sem fazer turnês, Elvis decide retornar a elas justamente na Sin City, Las Vegas. Porém, ele deixara de lado a "inocência" de outrora e se tornara um perfeito showman, o que fez alguns fãs mais antigos deixarem, ou passar a gostar menos, seu ídolo. Isso, aliado a alguns problemas de ordem pessoal, fez com que Elvis se tornasse um homem extremamente excêntrico: nos últimos meses de vida, Elvis consumia cerca de 94 mil calorias por dia. Só o café da manhã dele incluía mais de 5 mil calorias: 6 ovos quentes com manteiga, ½ quilo de bacon, 250 gramas de linguiça e 12 biscoitos amanteigados. Aliado ao uso excessivo de drogas, a má alimentação fez com que Elvis sofresse uma parada cardíaca, o que resultou em sua morte, a 16 de agosto de 1977. Seu corpo, encontrado por sua então namorada Ginger Alden na masão Graceland, em Memphis, Tennesee, foi sepultado em Forest Hill. Por´me, uma tentativa de furto de seus restos mortais (algo semelhante ao que ocorrera a Charles Chaplin, anos antes) fez com que a família optasse por sepultá-lo em um dos jardins de Graceland.

Enquanto isso, na Inglaterra...

Aquele show de Muddy Waters na década de 1950, em Londres, foi histórico. Não só por ter sido a primeira vez que um blues man foi levado além da América, mas porque suas raízes seriam firmemente presas ao território europeu, o que desencadearia uma nova mania nos ares de uma Europa ainda presa a uma música trazida desde a Idade Média e pouco modificada no decorrer dos anos. Mas desde que Waters se apresentou na capital inglesa, os londrinos tiveram o privilégio de presenciar o nascimento de uma nova subvertente do blues, que posteriormente ficou conhecida como London blues.

O London blues (ou blues londrino, ou ainda blues britânico) tinha como características a fusão do blues elétrico trazido por Waters mais alguns elementos folk, com bastante presença na Europa à época. Essa mistura proporcionou uma das maiores febres musicais que a Inglaterra já havia visto. Bandas como Fletwood Mac e Rolling Stones, além de cantores e guitarristas (assim como no blues americano) como Bob Dylan e John Mayall, embalaram as noites dos fins de semana londrinos no Marquee Club, que se tornou o principal ponto de encontro musical da cidade. Merecem destaque significativo um blues man e uma banda que, embora não sejam de Londres, fizeram barulho na capital inglesa e foram, possivelmente, as maiores influências do rock que estava por vir nas décadas subsequentes.

Eric Patrick Clapton (1945 - )
O tal blues man, Eric Patrick Clapton, nasceu em Ripley, em 1945. Filho de mãe solteira aos 16 anos, Clapton foi criado por sua avó, acreditando que esta era sua mãe, e sua verdadeira mãe, sua irmã mais velha. Foi descobrir a verdade aos nove anos de idade, tendo sido este um fato marcante em sua vida - dizem que era um garoto que passava a maior parte do tempo calado e praticamente não tinha amigos. Clapton, que ganhou seu primeiro violão aos 13 anos, passa a se dedicar cada vez menos à escola e cada vez mais à música, que servia como um refúgio de sua conturbada vida. A princípio como um mero entusiasta dos músicos americanos, o jovem Clapton foi se tornando um autodidata no instrumento, até pegar gosto pela guitarra elétrica do pioneiro Muddy Waters. Em 1963, ele ingressa em sua primeira grande banda, o Yardbirds, da qual saira em março de 1965, já que a banda, segundo Clapton, estava se rendendo ao sucesso, em detrimento de sua sonoridade. Tal episódio fez com que Eric Clapton ganhasse a simpatia da juventude londrina, que pichava a cidade com a inscrição "Clapton is God" (Clapton é Deus), alcunha que ainda hoje é utilizada por alguns entusiastas de seu som blueseiro. Depois de uma rápida passagem pelo John Mayall & the Bluesbreakers, Clapton formou seu próprio grupo com a ajuda de seus amigos Jack Bruce e Ginger Baker, o Cream, certamente influência para milhares de bandas que viriam posteriormente.

Os Beatles, em 1964: John Lennon e Paul McCartney
(em cima) e George Harrison e Ringo Starr (embaixo)
Já a tal banda teve seu som calcado no skiffle e no rock 'n roll, que surgiam paralelamente nos EUA e eram baseados no blues daquele lado do Atlântico. Juntaram-se cinco jovens, John Winston Lennon, James Paul McCartney, George Harold Harrison, Stuart "Stu" Sutcliffe e Randolph Pete Best, para formar a banda mais famosa e aclamada de todos os tempos, os Beatles. Originários da cidade de Liverpool, o Fab Four (como ficaria conhecida a formação clássica, com Lennon na guitarra base, Harrison na guitarra solo, McCartney no baixo e Ringo Starr, que entraria no lugar de Best e após a morte de Sutcliff, na bateria, onde todos cantavam) é ainda hoje o grupo musical mais popular da história. Construíram sua reputação tocando em pequenos bares na sua cidade natal e na cidade alemã de Hamburgo, onde rapidamente alcançaram a notoriedade da (à época, nem tão) toda-poderosa do mercado fonográfico EMI. Gravaram todos os seus discos nos célebres estúdios Abbey Road, que ficariam imortalizados na capa dos mesmos Beatles, em seu disco homônimo ao estúdio. Certamente foram a maior banda de rock 'n roll da história, tendo, no entanto, não ficado presa ao estilo, experimentando, posteriormente, o folk rock de nomes como os já citados Eric Clapton e Bob Dylan.

Além da mistura do rock 'n roll com o folk, proposta pelos Beatles, surgira no meio underground da terra da rainha uma sonoridade única. Na cidade famosa por sua Universidade renomada por ganhar vários prêmios Nobel, Cambridge, cinco jovens sonhavam em criar sua própria banda. Mais que isso, eles criaram um estilo totalmente único, certamente base para diferentes vertentes que surgiriam décadas depois. A mais nova onda dos ares bretões era o psicodelismo, que posteriormente evoluiu para o estilo conhecido como progressivo, dos quais até os maiores rockstars da época, os Beatles, beberiam da fonte. Isso, no entanto, fica pro próximo capítulo...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

capítulo 1: no princípio, era o blues...




O rock, enquanto um estilo único que "abraça" todas as suas subvertentes, pode ser, certamente, considerado riquíssimo em termos de influências. Na verdade, tudo o que foi produzido de rock nestas quase sete décadas de existência sofreu influência direta de outros gêneros que, a princípio, eram totalmente dispersos. No subgênero progressivo, por exemplo, é mais que óbvia a interação do rock já existente à época com a música clássica, principalmente aquela do período barroco; as composições de Elvis Presley (tido ainda hoje como o Rei do Rock), Little Richards, Jerry Lee Lewis e Chuck Berry eram calcadas firmemente no que ficou conhecido como rockabilly; o rock psicodélico, característico de bandas como o Pink Floyd, em sua primeira fase, The Doors, Beach Boys e The Who, era fortemente integrado ao soul. O próprio rock, de alguma maneira, se "reciclou" várias vezes, como veremos em capítulos futuros. Mas nenhum destes estilos foi mais característico no estilo que hoje conhecemos como rock, de um âmbito mais generalizado, do que o blues.

O blues teve suas origens nos cantos dos negros que trabalhavam como escravos nas fazendas de algodão do sul dos EUA, ainda no século XVIII. Após o fim da Guerra de Secessão e a vitória dos Estados do Norte, formando uma nação única e soberana no que hoje conhecemos como a Costa Leste dos EUA, no final do século XIX, o blues tomou contornos mais cult, passando a expressar o valor pela cultura africana dos antepassados trazidos à América nos navios negreiros, em detrimento do canto de repressão que era característica marcante do ritmo anos antes, dado o sofrimento de trabalhar todo o dia no campo.

Em meados da década de 1920, o blues tomou, finalmente, uma forma mais profissional. Os cantores pioneiros do estilo, à época, incluíam Charley Patton, Son House, Willie Brown, Leroy Carr, Bo Carter, Sylvester Weaver, Blind Willie Johnson e Tommy Johnson. As músicas da época ainda eram, em sua maioria, os cânticos campestres de anos antes, de modo que, não raro, os diversos grupos tinham várias composições em comum. Somente na década de 1930 surgiu um verdadeiro blues boy, tido ainda hoje por muitos como o melhor cantor de blues de todos os tempos.

Robert Leroy Johnson (1911 (?) - 1938)
Robert Leroy Johnson nasceu no Mississippi. Não se sabe ao certo quando ou onde ele nasceu exatamente. Na verdade, toda a sua vida é cercada de muitos mitos, muitas vezes impossíveis de serem diferenciados do que, de fato, ocorreu. Sabe-se apenas que Johnson tem apenas 29 músicas, gravadas nos anos de 1936 e 1937. Um mito que se tornou muito famoso da vida de Johnson faz alusão a um encontro dele com o diabo, na encruzilhada das Highways 61 e 49. Diz-se que lá ele vendeu sua alma, em troca da proeza em tocar guitarra. A lenda tornou-se famosa por Son House, uma das maiores influências de Johnson no blues. Segundo vários relatos, ele tocava de costas para a plateia - alguns dizem que isso era porque, ao tocar, seus olhos ficavam em chamas, possuídos pelo demônio. Johnson morreu, na versão mais aceita, após beber um copo de whisky, envenenado pelo dono do bar, que havia visto Johnson flertar sua mulher. Sua obra foi influência direta na música de mitos como Eric Clapton, Muddy Waters, The Rolling Stones e Bob Dylan.

Já na década de 1940, bandas como Sonny Boy Williamson e Big Bill Broonzy eram bastante conhecidas no meio blues. Foi a partir também da década de 1940 que o blues deixou de ser exclusivamente do delta do rio Mississippi e foi levado para outras cidades americanas, fazendo assim com que o estilo se subdividisse em várias vertentes, cada qual sob a tutela de uma cidade diferente. Destaco, entre estes, o blues de Detroit (de onde veio John Lee Hooker), o blues da cidade do Kansas, o blues de Louisiana (surgiu de lá Robert Pete Williams e Lightnin' Slim), o blues de Memphis (Furry Lewis é o principal expoente) e o blues de Piedmont.

Muddy Waters (1915 - 1983)
Entre todos estes, é interessante destacar dois, em especial: o blues de St. Louis e o blues de Chicago. Foi destas duas cidades que saíram nomes como BB King, Buddy Guy, Chuck Berry, Howlin' Wolf, Albert King e Muddy Waters, por exemplo. O primeiro deles caracteriza-se por uma levada mais suave que o rockabilly (também conhecido por rock 'n roll, embora alguns prefiram denotá-los separadamente), além de ter como base o piano, e não tanto o baixo, como nas demais vertentes. Já o blues da cidade de Chicago utilizava mais instrumentos elétricos que os demais, incorporando assim uma sonoridade mais robusta e moderna, nunca antes vista na música norte-americana.

Um show, em especial, ficaria marcado na história: a apresentação de Muddy Waters em Londres, no início da década de 1950. Certamente, foi este o marco inicial do blues em terras europeias, movimento que ainda hoje é conhecido como European blues. Talvez tenha sido este o pontapé inicial também para a criação um dos ritmos mais cativantes de toda a história, inspiração desse blog e desta série em capítulos que se inicia hoje. Um dos principais responsáveis por isso é eleito ainda hoje como um dos guitarristas mais virtuosos de todos os tempos, mas a real popularização do rock veio com um certo quarteto da cidade inglesa de Liverpool e um ex-caminhoneiro do Tennesee. Mas isso é história para o próximo capítulo...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

introdução: mas por que raios o dia 13 de julho?






Talvez você já tenha se perguntado: beleza, 13 de julho é o Dia Internacional do Rock, mas por que este dia, em especial? Por que não o dia 15 de setembro, ou o dia 20 de janeiro, ou o dia 27 de março? Seria esta uma data aleatória? A resposta é não. E é com este esclarecimento inicial, acerca da natureza do Dia Internacional do Rock, que o Questão das Malvinas orgulhosamente inaugura a sua série de posts para desvendar a história do ritmo mais fascinante da história da música e inspiração deste blog, o rock. A cada capítulo, você poderá encontrar aqui informações arduamente garimpadas dos becos mais obscuros da internet e também - por que não? - de nossos próprios conhecimentos e opiniões.

Exatos 26 anos anos atrás, 13 de julho de 1985. Simultaneamente, nos estádios de Wembley (Londres, Inglaterra) e John Fitzgerald Kennedy (Filadélfia, EUA), ocorria um dos maiores eventos da história do rock, o Live Aid. Várias bandas de todo o mundo se reuniram neste evento que ficaria para sempre na história da música, com o intuito (um tanto pretensioso, diga-se de passagem) de acabar com a fome na Etiópia. Um show sem precedentes: além das aproximadamente 180 mil pessoas presentes nos estádios, houveram mais milhares que acompanharam shows em outros lugares, como Moscou, Tóquio e Sydney; estima-se que 1,5 bilhão de pessoas assistiram à apresentação pela TV, transmitida para mais de 100 países.

O Live Aid foi originalmente planejado pelos cantores irlandeses Bob Geldof e Midge Ure. Originalmente, trata-se de um show ao vivo como complemento do clássico disco Band Aid, onde artistas como David Bowie, Paul McCartney e Phil Collins gravaram o single "Do They Know It's Christmas?", um ano antes. Artistas como dire Straits, Queen e The Who abriram a apresentação em Wembley às 12:00 GMT, enquanto que outros, como Judas Priest, The Cars e Neil Young abriram as apresentações no JFK Stadium às 13:04 GMT. David Bowie foi um dos artistas que participou dos dois shows, saindo de Wembley e se apresentando nos EUA horas depois. Os shows terminaram às 22:00 GMT na Inglaterra e às 04:05 GMT nos EUA, cujo show foi fechado pelos artistas que gravaram o ainda mais famoso single We Are the World, do projeto USA for Africa. A apresentação do Queen, que abriu o festival em Wembley, inclusive, foi cotada como a melhor apresentação de uma banda na história, devido ao coro eufórico ao som de We Will Rock You e We Are the Champions.

Capítulo 1: no princípio, era o blues...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

a história do rock começa dia 14




13 de julho é o dia mundial do rock.

Somos apaixonados por esse movimento artístico que mudou a história da humanidade e contaremos sua história em capítulos para vocês.

Dos clássicos, blues e jazz, até o som feito nos dias de hoje, as cenas regionais, as filosofias, as vertentes, os trabalhos definitivos. Tudo e mais um pouco.

Começa no dia 14.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

berluc - reise zu den sternen (1979)

Da esquerda para a direita: Bert Hoffmann (guitarra), Ronnie Pilgrim (vocal), 
Tino Schulteis (baixo), Uwe Märzke (teclados) e Dietmar Ränker (bateria).




É complicado falar de cenários musicais em nações politicamente instáveis. As bandas que surgem nestas localidades costumam ser gritos de resistência que se manifestam pela via artística. Entre os anos de 1949 e 1990, enquanto o lado capitalista deslanchava com bandas de projeção internacional pelas facilidades de um mercado mais receptivo, a Alemanha Oriental apresentou uma cena tão modesta quanto seus índices de desenvolvimento e qualidade de vida.

Berluc é uma banda formada na cidade de Rostock, nordeste alemão, no ano de 1978. Seu debut Reise Zu Den Sternen traz um dos mais caprichados trabalhos de sintetização que já tive a oportunidade de ouvir. Os sujeitos musicais são explorados do começo ao fim de cada faixa sem cair na mesmice. Outro ponto positivo é o baixo grave e bem destacado que não faz o ouvinte passar raiva – quem nunca desejou comprar um disco com amplificador opcional só pra destacar o baixo originalmente abafado no estúdio por guitarras destrambelhadas e baterias que dão câimbra até em quem ouve?

Vamos às letras escritas em bom alemão: elas revelam um país drasticamente dividido e uma população cética quanto ao progresso das iniciativas de seu governo. Destaco estas mensagens porque, de certo modo, em vários outros cantos do mundo as populações viveram semelhantes medos e muitas ainda vivem o que ficou mal resolvido daquele contexto conturbado.

Feuer in der Welt (fogo no mundo) e Reise Zu Den Sternen (viajar para as estrelas) tratam da famosa corrida armamentista e espacial travada pelas potências de então. Tremenda loucura era construir foguetes a poucos quilômetros de distância de algumas vilas cujos habitantes mal tinham o que comer: a arte da capa, um capacete cor-de-rosa de astronauta, sugere que ainda era possível extrair graça e poesia de situação tão desesperadora.

O som é uma mistura de hard rock tradicional e rock progressivo. Impressionante o quanto os caras beberam de duas fontes sagradas chamadas Pink Floyd e Kraftwerk.

Track List
1. Hallo Erde, Hier Ist Alpha
2. Bleibe Sonne, Bleib
3. Alter Traum
4. Feuer in der Welt
5. Flugel
6. Computer 3-4-X
7. Du Bist Kein Mensche
8. Blaue Stunde
9. Reise Zu den Sternen

Baixe este disco aqui.