quarta-feira, 22 de junho de 2011

vá aos shows




Bruce Dickinson disse certa vez que “a diferença entre baixar um vídeo do Iron e vê-lo ao vivo é a mesma coisa que ver um DVD de uma atriz pornô tendo sexo e fazer sexo com ela”. Analogias vulgares à parte, ele está coberto de razão ao alegar que não existe melhor sensação para o fã que estar num show e ver aquelas músicas, até então virgens em suas versões de estúdio, serem tocadas diante de seus olhos.

As bandas sabem que não há como impedir o compartilhamento de material audiovisual na internet e podem tomar duas providências distintas em relação a isso: reclamar por seus direitos junto às gravadoras e sites de busca – o que é justo, embora pouco efetivo – ou promover mais turnês para divulgarem seus trabalhos. O primeiro mandamento da indústria fonográfica hoje é lançar um trabalho apenas quando puder abarcar toda a logística de sua turnê.

As televisões ainda não transmitem cheiro nem simulam o rico contato entre seres humanos e é por isso que os shows ao vivo são uma experiência completa somente para quem está no evento. E se depender da venda de discos físicos, com a promessa de encartes e selos diferenciados, já não é tarefa fácil para as bandas de maior porte, que dirá aquelas sem grande projeção na cena.

No interior paulista, folhetos são pregados em postes para divulgarem shows que, se julgados pela arte da divulgação, teriam tudo para ser um fiasco. As pessoas que raciocinam desta forma se esquecem de que muitas dessas bandas não podem bancar uma divulgação decente e optam pelo material de menor custo e com melhor visibilidade geográfica. Muitas delas são de alto nível – digo sem medos, até porque nenhuma banda nasce grande e nem todo talento é privilegiado – e precisam fazer shows em uma noite ouvindo impropérios de bêbados para pagarem o almoço do dia seguinte.

Parece demagogia, mas a realidade da cena underground nacional é esta. Muitos bons grupos acabam cedo e seus integrantes precisam ceder o prazer de fazer música em troca de um emprego burocrático. A música presencial só resiste Brasil afora porque ainda existe gente corajosa o suficiente para descer do pedestal de conforto que a internet proporciona e pagar preços módicos por longas noites de rock’n roll.

Vá aos shows, prestigie o movimento nacional, dê aos bons artistas o incentivo financeiro que nossos governantes preferem dar aos cárceres.