domingo, 10 de abril de 2011

o imbróglio entre diretores e músicos da OSB






Toda expressão artística existe, a rigor, para externar os anseios do homem de uma maneira que os sentidos sejam capazes de perceber com um tanto de prazer pessoal. Determinados grupos se formam em torno de uma concepção artística comum e, por mais gritante que seja a diferença individual entre seus membros, fugir dos estereótipos é uma tarefa complicada. O grande público ainda é obrigado a conviver com as anedotas midiáticas de que os headbangers não passam de reacionários sem causa, bem como os ouvintes de música clássica substituem soníferos tarja-preta por uma audição.

Nem uma coisa, nem outra. Ontem, em pleno teatro municipal do Rio de Janeiro, os esperados aplausos na entrada do maestro Roberto Minczuk foram substituídos por vaias do público e instrumentistas se levantando como que numa reação em cadeia. Uma atitude tipicamente rock’n roll, digna dos mais escancarados protestos contra mandos e desmandos, soou vinte longos minutos nas irresponsáveis cabeças dos dirigentes da Orquestra Sinfônica Brasileira. Instituição cultural, em teoria, que há muito tempo incorpora tudo aquilo que o serviço público tem de pior: o corporativismo, o empreguismo e o exclusivismo.

O momento mais comovente talvez tenha sido a adesão dos músicos aos apelos do público. São todos jovens, com bem menos experiência e escalados de última hora para cobrir uma turnê que não poderia ser encarada pela orquestra titular e seu vergonhoso déficit de 44 funcionários demitidos sem justa causa. São todos jovens e, diante da grande chance de suas vidas, uma rara oportunidade de mostrarem serviço na orquestra titular nacional, aumentando seus salários e visibilidade, eis que se solidarizam com a situação dos companheiros de ofício mais velhos.

A sala de concertos, que tantas vezes abriga o silêncio do público e a exclusiva manifestação sonora da orquestra, protagonizou pelo menos numa noite o espetáculo dos papéis invertidos.