quinta-feira, 31 de março de 2011

blaze bayley - silicon messiah (2000)

Blaze Bayley




Creio conhecer o metal e as suas mais diversas vertentes de forma mais ou menos razoável, a ponto de opinar sobre seus heróis, vilões, mitos e aqueles que, por um motivo ou outro, ficaram renegados a uma imagem estereotipada, eu diria. Estes últimos, por muitas vezes, ficam limitados a um curto espaço de tempo, embora muito mais notório, em que não passaram uma impressão muito boa, mas que, ao se conhecer a sua história como um todo, percebe-se o quão injustiçados estes são. Acredito que Dave Mustaine, em razão de sua passagem conturbada (para dizer o mínimo) pelo Metallica seja um exemplo, visto que muitos fãs "iniciantes" da banda têm uma má impressão de sua banda, o Megadeth, justamente por causa disso. (Acreditem, eu tenho conhecimento de causa.) Mas não consigo imaginar, pelo menos de momento, um cara tão menosprezado quanto Blaze Bayley, em sua curta passagem pelo Iron Maiden.

Vamos ao contexto dos fatos: Bruce Dickinson, em meados de 1993, decidiu deixar a Donzela de Ferro e dar prioridade à sua carreira solo. Steve Harris convidou-o a terminar a tour do disco mais recente, Fear of the Dark, para que os fãs pudessem "se despedir" de Bruce, o Iron gravasse e lançasse alguns álbuns e DVDs ao vivo (onde entra, é claro, a questão do marketing)e para que a banda tivesse tempo de escolher um substituto. Por volta do final de 1994, haviam apenas três vocalistas restantes neste "processo seletivo": Doug White (que já havia cantado com o Rainbow e com a lenda das guitarras Yngwie J. Malmsteen), André Matos (brasileiro, fundador de bandas como Viper e Angra) e Blaze (que, à época, cantava no Wolfsbane).

Blaze gravou dois discos com o Iron Maiden, The X-Factor (1995) e Virtual XI (1998). Os discos contém alguns dos clássicos da banda, como Sign of the Cross, Futureal e The Clansman, algumas delas executadas nos shows até bem pouco tempo atrás, mas os fãs não gostaram do disco. Como Bruce e Adrian Smith (que estava fora da banda desde a Seventh Son of a Seventh Son Tour) desejavam voltar a banda, não restou outra alternativa a Steve Harris a não ser "chutar" o pobre Blaze. Este partiu então para sua carreira solo, cujo primeiro trabalho, Silicon Messiah, dá nome ao post.

Silicon Messiah é um álbum basicamente conceitual. Tem a temática baseada na inteligência artificial, a veneração ao silício (como o próprio nome sugere) e à perda dos valores humanos. A sonoridade lembra um heavy metal muito "pesado", por vezes flertando com o thrash, como na introdução de Evolution, a segunda faixa do disco. E se você espera algo pelo menos um pouco parecido com o Iron Maiden, além da temática "nerd", pode tirar o cavalinho da chuva: Blaze, que compôs todas as faixas do álbum, mostrou uma enorme personalidade e maturidade em seu debut. Alguns chegaram a apontar o disco como um dos clássicos do heavy, o que eu acho um exagero, apesar de concordar que o disco é realmente fabuloso.

Track List
1. Ghost in the Machine
2. Evolution
3. Silicon Messiah
4. Born as a Stranger
5. The Hunger
6. The Brave
7. Identity
8. Reach for the Launch
9. The Launch
10. Stare at the Sun

Baixe este álbum aqui.

o caso bolsonaro




Milhões de televisores exibiram em rede nacional o mais recente deboche à Constituição efetuado pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Nem mesmo o formato pergunta-resposta do quadro em questão foi capaz de intimidar o político que, em sentenças curtas e cientes de si, incorreu publicamente nos crimes de incitação à violência, racismo e homofobia, por mais que este item não tenha formatação adequada na legislatura penal brasileira em pleno século XXI.

Cantarei uma bola que você, caro leitor, há de me cobrar nas próximas eleições federativas: Bolsonaro será reeleito com maior expressividade de votos.

Em outras palavras, se por um lado sua entrevista gerou a manifestação contrária de tantos, também foi capaz de expor o espírito retrógrado que ainda reside no brasileiro típico, seu preconceito velado e o descaso com que deposita seu voto. Não sou ingênuo a ponto de considerar este um país sério e com níveis de educação satisfatórios para que tal declaração cave sozinha a sepultura de um homem público.

Bolsonaro presta um serviço curioso à nação: privar seus cidadãos de si mesmos, negando toda a pluralidade cultural que, sob uma ótica mais inteligente e inclusiva, pode ser considerada uma das maiores bênçãos de nossa formação histórica. É por isso que seus partidários ainda serão nossos congressistas por gerações, ironicamente os porta-vozes de nossos mais profundos anseios por uma sociedade justa e igualitária.

A simples manifestação afetiva entre homossexuais na via pública é, para muitos, ato ilícito, imoral, descabido, apologia à promiscuidade, digno de tapar os olhos de seus filhos. Os mesmos filhos que, ainda pequenos, almoçam em frente à tevê, durante o noticiário de milhares de mortes de um conflito qualquer no Oriente Médio, sem a menor necessidade de vendar as vistas. Não deixa de ser engraçado o filtro de conteúdo estabelecido por esse tipo de pais.

Não existe déficit social ou afronta de qualquer espécie nesse tipo de exposição. Ao contrário das bestialidades envolvendo crianças, animais ou cadáveres, a relação gay se estabelece entre dois seres adultos e conscientes de seus atos. São cidadãos livres e pagadores de impostos, verba esta que justifica inclusive o polpudo e nada merecido salário de Bolsonaro.

O nobre deputado sabe em que terreno pisa quando desmente as críticas sobre Preta Gil quanto à etnia, exaltando repúdio exclusivo ao seu comportamento sexual. Ele conhece muito bem a hipocrisia que predomina no julgamento de uma prática preconceituosa. Jamais ouse chamar um afrodescendente de “macaco”, mas sinta-se à vontade para, na mesma linha de comparativos com o reino animal, chamar um homossexual de “veado”. A lei equipara todo e qualquer tipo de discriminação, contudo, na prática, todos conhecem as implicações diferentes que ofensas tão semelhantes acarretam.

O simples temor pelo contato com o diferente explica o ranço ideológico das alas e mentes conservadoras. Uma falsa interpretação do princípio de liberdade de expressão dá a brecha para que digam o que bem entendem sem méritos punitivos – afinal de contas, para quê apresentar ao povo argumentos lógicos e sólidos, quando se é permitido legislar com base no gosto e na opinião?

terça-feira, 29 de março de 2011

helloween - live in the u.k. (1988)

Ingo Schwichtenberg, Michael Weikath, Michael Kiske,
Kai Hansen e Markus Grosskopf

Em meados dos anos oitenta, em clara resposta à crescente onda de vertentes extremas que emergiam no cenário, surge o power metal, uma espécie de heavy metal mais melódico que o habitual, combinando voz limpa e aguda, temas épicos e rapidez na execução. A teoria corrente defende que o estilo teve sua formatação definitiva com a banda Helloween e eu defendo que os alemães não têm a menor culpa sobre o flower metal que bandas como Rhapsody of Fire e Dragonforce fazem hoje em dia alegando suas influências.

O álbum que vos trago é a compilação de um show realizado em Edinburgh, quatro dias antes do meu nascimento, por aquela que talvez seja a melhor formação do grupo: o vocal potente do jovem Michael Kiske, as bem-casadas guitarras de Kai Hansen e Michael Weikath, a linha melódica concisa e sem virtuosismos desnecessários do baixo de Markus Grosskopf e a bateria de Ingo Schwichtenberg que seria copiada sem o menor pudor por bandas mundo afora.

Diga-se de passagem, toda a sonoridade elaborada pelos Helloween cedo ou tarde seria alvo de réplica, cada vez com menos peso e mais floreios.

Esta é uma banda extremamente técnica e, ao contrário do que a tendência sugere, seu primeiro registro oficial ao vivo não é nada burocrático. Temos um trabalho de músicos entrosados, íntimos da plateia escocesa e bastante à vontade para imprimirem seu ritmo. Vale também pela versão de How Many Tears (única do clássico Walls of Jericho que figura na setlist) na interpretação do Kiske.

Track List
1. A Little Time
2. Dr. Stein
3. Future World
4. Rise and Fall
5. We Got the Right
6. I Want Out
7. How Many Tears

O download do álbum e da bootleg pode ser feito aqui.

segunda-feira, 28 de março de 2011

fatos e mitos sobre fukushima




Creio não ser novidade para ninguém os fatos ocorridos no Japão após o terremoto ocorrido às 14h43 (horário local, 2h43 do horário de Brasília) do dia 11/03 passado. Mesmo tendo ocorrido a quase 400 km de Tóquio, a aproximadamente 24 km de profundidade, a capital japonesa tremeu com o abalo sísmico, de 8.9 graus na escala Richter - o maior da história japonesa e o quarto (ou quinto, as informações são díspares com relação a isso) na história desde a medição de tais fenômenos no planeta. Mas, apesar da tragédia, o que mais preocupa atualmente as pessoas ao redor do mundo são as sucessivas explosões ocorridas em 4 dos 7 reatores nucleares da usina de Fukushima Daiichi, situada 250 km ao norte de Tóquio. Porém, muito do que se diz não passa de mera especulação/sensacionalismo, e o objetivo deste post é, baseado em conhecimentos por mim adquiridos, elucidar o que é verdade e o que não é.

Antes de tudo, creio ser necessário um pequeno parênteses: saber como funciona uma usina produtora de energia elétrica por fusão nuclear, como a usina japonesa. Uma usina como Fukushima tem imensos tanques cheios com água e barras de elementos radioativos, em especial o urânio-235 e o plutônio-239. Esses elementos são submetidos a pequenas fusões, controladas por outros elementos químicos e monitoradas 24h. As fusões liberam energia em forma de calor, e a água dos reatores evapora. O vapor liberado pelos reatores gira um enorme dínamo que, assim como nas usinas hidrelétricas, é rotacionado, gerando a energia elétrica propriamente dita. O vapor d'água é então liberado no ar, sem nenhum composto radioativo, e a energia segue por fios até abastecer as cidades.

O abalo comprometeu o sistema de resfriamento dos reatores, gerando um super aquecimento. Como o calor excessivo não escapava de forma correta, a pressão interna dos reatores aumentou demais e acarretou uma explosão. As paredes do reatores são extremamente resistentes, já que têm cerca de um metro de espessura em certos pontos estratégicos, e não foram danificadas ao ponto de ocorrer um desastre ainda maior. A nuvem de radiação rapidamente espalhou-se pelas vizinhanças de Fukushima, e os moradores em um raio de 20 km de distância foram rapidamente removidos de suas casas.

Especulou-se muito sobre essa radiação chegar até a Europa. Balela: a radiação muito provavelmente não afetará sequer Tóquio, e certamente não afetará a níveis considerados perigosos. Tanto é verdade que a população que ficou em um raio de 20 a 30 km da usina sequer foi retirada do local, tendo sido orientados a permanecer em casa com portas e janelas fechadas. Saliento, mais uma vez: Tóquio fica a 250 km de Fukushima; a costa oeste norte americana, onde moradores já compram, aos montes, pílulas capazes de anular os efeitos das radiações, fica a aproximadamente 12.000 km, mais do dobro da distância entre o monte Roraima, ponto mais setentrional do território brasileiro, ao arroio Chuí, o extremo sul de nosso país.

Outro mito: Fukushima passar a ser o maior acidente nuclear da história, superando a famosa explosão da usina de Chernobyl, na antiga União Soviética (hoje parte do território ucraniano). O vazamento radioativo, ocorrido em 26 de abril de 1986 e que evacuou a cidade vizinha de Pripyat, foi considerado de nível 7, e o de Fukushima, nível 6. (Na verdade, ainda há um vazamento considerado "intermediário", em Three Mile Island, Pensylvania, EUA, ocorrido em 28 de março de 1979.) A considerar que o desastre de Chernobyl foi um fator decisivo nas discussões acerca do uso da energia nuclear e os riscos aos quais estamos expostos, seria mais que óbvio que o acidente soviético seria bem mais relevante. A explosão ocorreu em razão de testes mal sucedidos, ainda durante o processo de construção da usina, não estando, assim, plenamente dentro dos níveis de segurança da época. Estima-se que a nuvem, cuja radiação supera em 400 vezes a Little Boy (bomba lançada sobre Hiroshima na Segunda Guerra Mundial), alcançou a Inglaterra e a Escandinávia, a oeste, e boa parte do território da União Soviética, a leste, sem, no entanto, ser alta o suficiente para causar qualquer dano aos seres humanos.

Protestos ao redor do mundo

Diversas organizações em favor do meio ambiente e dos direitos humanos têm feito passeatas e protestos ao redor do mundo, no intuito de que boa parte das 210 usinas e dos 440 reatores nucleares ainda em funcionamento ao redor do mundo fossem desativadas apara que não acontecesse, mais uma vez, tal desastre. Os que defendem as usinas afirmam que a segurança delas é tão grande que isso é extremamente improvável que aconteça novamente, ainda mais se contarmos com o fato de que o desastre em Fukushima deveu-se a um abalo fortíssimo - seria como desativar todos os aviões comerciais só porque um deles caiu por uma pane qualquer. Além do mais, a produção de energia elétrica por meio da fissão/fusão nuclear é extremamente significativa (cerca de 16% da energia elétrica consumida no planeta, cerca de 372 GW, é produzida de tal forma), sendo necessária a produção por outros meios, que são pouco eficazes, ou muito prejudiciais à natureza, ou tão perigosos quanto o modo de produção por fusão.

Para saber mais detalhes sobre o funcionamento de uma usina nuclear, acesse a questão das malvinas aqui. Abaixo, uma animação detalhada sobre tal método de produção de energia elétrica.

Atualização por correção: dia 30 de março de 2011

A usina nuclear de Fukushima Daiichi, assim como todas as usinas termonucleares ativas atualmente, funcionam a partir da fissão nuclear, e não da fusão nuclear, como dito anteriormente. A diferença básica entre os dois tipos de reação nuclear é que em uma reação do tipo fissão nuclear, o núcleo do átomo subdivide-se em dois ou mais núcleos de átomos menores. Tal como previsto pelo modelo atômico quântico de Niels Bohr, a reação desencadearia a perda de energia do sistema (no caso, em forma de calor, que irradiaria e aqueceria o tanque). O modelo de fusão nuclear prevê justamente o contrário: dois núcleos de deutério (configuração particular do hidrogênio, de massa atômica igual a dois) seriam aquecidos em um tanque e sofreriam a fusão para formar um novo átomo, de hélio (m.a. igual a quatro). A diferença energética entre os dois núcleos de deutério e o de hélio será emitida na forma de energia térmica, suficiente para manter o estado plasmático e com sobra de grande quantidade, a ser convertida em energia útil. Cientistas do Japão e da União Europeia, do projeto Iter, estudam um modo de viabilizar a produção de energia elétrica também deste modo.

Agradecimentos à Camila por me alertar o erro. ;D

quarta-feira, 23 de março de 2011

david and igor oistrakh - vários compositores (1957)

David Oistrakh e Igor Oistrakh

Estive fora de casa por uns dias, resolvendo este e aquele assunto que justificam os deslocamentos físicos e a vulnerabilidade geográfica dos seres. Longe inclusive do acesso à internet, nada pude postar nos últimos dias, embora tenha ouvido, como de costume, tantas coisas.

David Oistrakh é, na minha modesta opinião, o mais completo violinista do século XX, havendo sérias margens para discussões sobre o tema. Um de seus trunfos talvez seja a falta de especialização em dados compositores ou períodos. Seus dedos gordos (redijo sem um pingo de maldade) produzem vibratos sutis e uma limpeza acima da média, longe do efeito nauseante que os instrumentos de arco podem causar quando tocados com inocência, pois conseguem manter toda a polpa digital estabelecida sobre a corda.

Tive sorte de achar e comprar esta raridade em long play. Não seria estúpido de deixar passar a oportunidade, ainda que soasse perigoso Handel e Wienawski coabitarem no mesmo álbum. Parece complicado um músico estabelecer a mesma competência interpretativa para obras que representam e dizem coisas tão diferentes. Até por isso, coletâneas de variedades costumam fazer enorme sucesso nas bancas, mas não causam metade do entusiasmo nos ouvintes antigos de música clássica.

Um gênio de seu instrumento consegue contraprovar essas óbvias tendências num álbum extremamente bem executado. E se a escolha de David por seu filho Igor sugerir um quê de nepotismo no ar, faixa após faixa você será levado, como também fui, a se envergonhar por tal conclusão precipitada.

Track List
1. Concerto Grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, RV 522 (Allegro) - Vivaldi
2. Concerto Grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, RV 522 (Larghetto) - Vivaldi
3. Concerto Grosso for 2 violins, strings and continuo in A minor, RV 522 (Allegro) - Vivaldi
4. Sonata in C, BWV 1037 (Adagio) - Bach
5. Sonata in C, BWV 1037 (Allegro) - Bach
6. Sonata in C, BWV 1037 (Allabreve) - Bach
7. Sonata in C, BWV 1037 (Presto) - Bach
8. Trio Sonata for 2 flutes and continuo in G minor, HWV 391 (Andante-Allegro) - Haendel
9. Trio Sonata for 2 flutes and continuo in G minor, HWV 391 (Arioso) - Haendel
10. Trio Sonata for 2 flutes and continuo in G minor, HWV 391 (Allegro) - Haendel
11. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano (Moderato) - Benda
12. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano (Largo) - Benda
13. Trio Sonata in E major for 2 violins and piano (Allegro) - Benda
14. Etudes-Caprices for 2 violins, op. 18, 2 in E flat major - Wienawski
15. Etudes-Caprices for 2 violins, op.18, 5 in E major - Wienawski
16. Etudes-Caprices for 2 violins, op.18, 4 in A minor - Wienawski

Faça o download do álbum aqui.

sexta-feira, 18 de março de 2011

lua cheia de amanhã será a maior em 20 anos




Tenho um fascínio extremo por Astronomia, Cosmologia e, de um âmbito mais generalizado, pelo Universo e suas leis que, gradatim, nós, reles seres mortais, vamos descobrindo - e assim chegando cada vez mais próximos a Deus. Hoje temos um conhecimento tão amplo, sobre o mundo em que vivemos e sobre nós mesmos, que até mesmo o mais otimista entusiasta da ciência de tempos passados não se atreveria a "prever" tais avanços. E é essa mesma ciência tão avançada que nos traz cada vez mais questionamentos sobre nossas origens e, principalmente, sobre o futuro que nos aguarda, provando (como se ainda necessário o fosse) que a roda do conhecimento nunca para de girar, e o seu principal combustíevl é o instinto de curiosidade que nos diferencia das demais espécies vivas.

Mas, ao menos por ora, deixemos de lado todo este lado utópico/surrealista do conhecimento científico e demos espaço a um fato no mínimo curioso que acontecerá durante essa madrugada (de sábado, dia 19/03, para domingo, 20/03). Nosso único e belo satélite natural, a Lua, alcançará o seu perigeu. O que isso significa? Significa que a Lua estará tão próxima da Terra como nunca esteve desde 8 de março de 1993, a meros 356.575 quilômetros de nosso planeta. Obviamente, isso acarretará em um aumento substancial da visão que teremos dela: algo em torno de 14% maior e 30% mais brilhante que em seu apogeu - o oposto do perigeu, ou seja, o ponto mais distante da Lua em relação à Terra. E uma oportunidade dessas é imperdível para os amantes dos fenômenos astrológicos, como eu: um perigeu como esse acontece aproximadamente a cada 20 anos. (Outros acontecem, de uma a seis vezes em um ano, porém são bem menores.)


Imagens da Lua cheia. À esquerda, a Lua em seu perigeu, fenômeno que acontecerá na madrugada do dia 19/03 para o dia 20/03. À direita, a Lua em seu apogeu, justamente o ponto mais distante com relação à Terra. Percebam a enorme diferença de tamanho.

Alguns mais "ortodoxos" apontaram o perigeu lunar como a causa principal do terremoto que sacudiu o Japão no dia 11 deste mês e causou um enorme maremoto que, até o momento, já deixaram quase 7000 vítimas, além do desastre nuclear em Fukushima. Mas é balela: a Lua e seu campo gravitacional modificam apenas o andamento das marés que, como a Lua está mais próxima, passam a ser maiores. Um terremoto, e por consequência o maremoto, são causados por deslocamentos nas placas tectônicas terrestres que flutuam sobre o magma, segundo a teoria formulada em 1912 por Alfred Wegener. Além do mais, como dito anteriormente, perigeus lunares ocorrem várias vezes ao ano - este só vai ser um pouco maior que o comum. Tratou-se apenas de uma infeliz coincidência.

Pra finalizar o post, gostaria de fazê-los um convite. A internet, essa maravilhosa ferramenta que conecta as mais diferentes pessoas dos mais diferentes pontos deste pálido ponto azul, pode servir também como interação entre todos nós. E uma forma que, ao meu ver, seria extremamente interessante de fazê-lo seria que todos nós, nem tão contribuidores e nem tão assíduos leitores deste blog, tirássemos fotos dos mais diferentes pontos do país deste evento tão único, do qual só poderemos nos deleitar novamente daqui a sabe-se lá quanto tempo. As fotos podem ser enviadas a meu e-mail pessoal (acristian.deoliveira@gmail.com) e depois postadas aqui no blog, com os devidos créditos aos autores. Para fins de organização, eu gostaria de pedir que seguissem o seguinte roteiro:

Assunto: Perigeu Lunar
Mensagem: Nome e cidade onde mora


Espero que vocês tenham gostado da sugestão e que, claro, abraçem a ideia! Abraços, amigos!

quinta-feira, 17 de março de 2011

moda de rock - viola extrema (2010)

Ricardo Vignini e Zé Helder

Eu confesso que fico surpreso quando vejo a mescla de dois estilos totalmente distintos e a sonoridade que, juntos, eles atingem. Essa é justamente a proposta do Moda de Rock, um projeto de dois ícones da nova viola brasileira, Ricardo Vignini e Zé Helder. É um trabalho muitíssimo interessante: a sonoridade das boas e velhas modas de viola de duplas consagradas nos áureos anos 1980 da nossa MPB, mesclada de forma brilhante com o peso de bandas como Megadeth e Iron Maiden, ou simplesmente com o melancolismo de Led Zeppelin e Pink Floyd. São 11 super clássicos do rock/metal que, caso estivessem resumidos em uma simples coletânea, certamente não desagradariam nenhum fã do estilo.

O disco abre simplesmente com uma das maiores músicas de um dos maiores discos de uma das maiores bandas de todos os tempos. Estou me referindo, respectivamente, a Kashmir, Physical Graffiti e Led Zeppelin, claro. A música, que apresenta praticamente todas as nuances da banda londrina, ganha um ar de requinte (sim, requinte) com a versão na viola, desacompanhada de vocal ou percussão. A seguir, o clássico do thrash metal, Master of Puppets, do disco homônimo do Metallica. O petardo vem com todo o caos entoado pelas guitarras de James Hetfield e Kirk Hammett, porém de certa forma "inocente", característica da viola caipira.

Na sequência, a banda mais bem sucedida da história: os Beatles e a música Norwegian Wood (This Bird has Flown), do clássico Rubber Soul. A faixa quatro traz a maior banda de rock progressivo da história, o Pink Floyd, em um de seus maiores clássicos, o disco The Wall, na faixa de abertura In the Flesh - confesso que essa é a minha favorita do disco, por todo o bucolismo que ela me lembra. Segue-se o disco com uma banda brazuca: o Sepultura e seu sucesso Kaiowas, do aclamado disco Chaos A.D. E é claro que um dos maiores gênios da história da guitarra não poderia ficar de fora: May This Be Love, do disco debut do Jimi Hendrix Experience, Are You Experienced?

Segue-se um dos maiores sucessos da história do metal: Aces High, do álbum mundialmente aclamado Powerslave dos ingleses do Iron Maiden. (Essa é outra releitura interessantíssima da dupla, haja visto o peso original da música aliado à sonoridade sublime das violas.) Seguem-se Mr. Crowley, do disco debut Blizzard of Ozz de ninguém menos que o "fuckin' Prince of Darkness" Ozzy Osbourne em sua carreira solo, e Smells Like Teen Spirit, a música mais badalada do movimento grunge, encabeçado pelo disco Nevermind e sua banda, o Nirvana.

Para fechar o disco, dois petardos de duas vertentes quase que opostas no vasto universo rocker: o hino Hangar 18, de um dos discos mais consagrados da história do thrash metal, o Rust in Peace, do Megadeth, e o clássico absoluto do rock progressivo dos ingleses do Jethro Tull, Aqualung, de seu disco homônimo.

Da primeira à última faixa, um disco irretocável, perfeito.

Track List
1. Kashmir
2. Master of Puppets
3. Norwegian Wood (This Bird Has Flown)
4. In the Flesh
5. Kaiowas
6. May This Be Love
7. Aces High
8. Mr. Crowley
9. Smells Like Teen Spirit
10. Hangar 18
11. Aqualung

O download do álbum pode ser feito aqui.

quarta-feira, 16 de março de 2011

agent steel - skeptics apocalypse (1985)

Juan Garcia, George Robb, John Cyriis, Kurt Kilfelt e Chuck Profus

Pode-se dizer que o termo speed metal figura na lista dos muitos arcaísmos que motivaram o investimento de gravadoras por alguns anos, mas, hoje, quando muito, é associado a outros gêneros com mais apelo de mercado que ajudou a desenvolver, em especial o thrash e o power metal.

Agent Steel é uma das raras bandas que se mantiveram fiéis ao estilo original sem mesclas e seu LP debut estabelece um divisor de águas nos graus de porralouquice de quem ouve. Quando decidi correr diariamente, elegi alguns álbuns que me fariam companhia durante a prática esportiva; este figurou semanas a fio e a primeira meia hora do percurso eu mal era capaz de perceber. Sem trocadilhos infames com o caráter speed da coisa, ali eu pude notar o verdadeiro espírito desta vertente. Petardos do começo ao fim não me davam tempo de respirar, apenas curtir o que estava fazendo na maior doideira possível.

Eis o milagre da insanidade salvando um álbum repleto de itens para se passar longe numa primeira audição: faixas muito parecidas umas com as outras, vocal pouco técnico que abusa de agudos e cacoetes, recursos instrumentais crus e repetitivos. Curioso é que estes defeitos, com o passar do tempo, tornaram-se virtudes para mim e para minhas pretensões.

Que desculpem a inocência, mas um post técnico castraria todas as descrições do que realmente sinto ao ouvir isto. Devo ao Agent Steel dez quilogramas a menos e a aquisição de um hábito saudável.

Track List
1. The Calling
2. Agents of Steel
3. Taken by Force
4. Evil Eye - Evil Minds
5. Bleed for the Godz
6. Children of the Sun
7. 144,000 Gone
8. Guilty as Charged
9. Back to Reign
10. Calling 98 for Skeptics

O álbum pode ser baixado aqui.

segunda-feira, 14 de março de 2011

the entire population of hackney - the entire population of hackney (1985)

Adrian Smith e Nicko McBrain

Final da World Slavery Tour, 1985. Nicko McBrain, baterista do Iron Maiden, já estava de saco cheio de ficar seis meses sem fazer absolutamente nada. Então ele teve uma ideia: montar um projeto que fizesse alguns shows, just for fun. Ele falou com Adrian Smith, guitarrista do Iron, sobre a ideia, e este abraçou a causa. Para que não fosse "um outro Iron Maiden", Adrian sugeriu que fossem convidados seus antigos colegas da banda Urchin (que à época tocavam na banda de AOR britânica FM), que ele fazia parte antes de ingressar na banda de Steve Harris. Assim, Andy Barnett e Dave Colwell (guitarristas e backin' vocals) entraram no projeto, assim como Martin Connoly (baixista), um amigo de Nicko que tocou no Marshall's Fury.

Estava pronto o line up do The Entire Population of Hackney, um projeto de duas noites (19 e 20 de dezembro de 1985) no Marquee Club, em Londres. (Na verdade, o The Entire Population of Hackney é um projeto de uma noite só. Na outra noite, eles tocaram como The Sherman Tankers.) O nome envolve um fato curioso: Hackney é um bairro no subúrbio de Londres, famoso por ser o lugar mais perigoso da capital inglesa. Nicko teve a ideia de batizar o projeto com esse nome, justamente para satirizar o bairro. (Vale lembrar que ele, assim como Adrian, viveu sua infância em Hackney.)

Pode-se dizer que o The Entire Population of Hackney é o projeto mais curioso do Iron Maiden - mesmo não sendo "exatamente" do Iron Maiden. Isso porque, apesar de ser ideia de Nicko e Adrian, exclusivamente, o The Entire Population of Hackney contou com a participação mais que especial de Bruce Dickinson, Dave Murray e Steve Harris, nos encores - a partir de Losfer Words, pra ser mais exato. Pra ser sincero, muito pelo contrário do que talvez vocês imaginem, Bruce não fez tanta falta assim não: Adrian soube segurar bem os vocais, e quem já escutou o A.S.A.P. (Adrian Smith and Project) sabe bem disso.

(Este show é o do dia 19 de dezembro de 1985, relembrando. O show do dia 20, até onde sei, não tem nenhum registro.)

Track List
1. Juanita
2. See Right Through You
3. Reach Out
4. Chevrolet
5. Lady
6. Silver and Gold
7. That Girl
8. Fighting Man
9. School Days (Pt. 1)
10. Drum Solo
11. School Days (Pt. 2)
12. She's Gone
13. Try
14. Losfer Words (Big 'Orra)
15. 2 Minutes to Midnight
16. Rosalie
17. Tush

Baixe este álbum aqui.

domingo, 13 de março de 2011

ayreon - the human equation (2004)


Arjen Lucassen, idealizador do projeto Ayreon

Quando se fala em determinada banda, a primeira e mais inocente pergunta que costuma vir à cabeça é: qual é o estilo? Deve ser quase impossível um grupo de músicos se juntar para criar um trabalho novo sem pensar no estilo adotado. As mensagens contidas precisam de um estilo para ser expostas e para que o ouvido entenda. O ponto fundamental dessa abordagem é que as pessoas costumam também buscar coisas para ouvir com forte tendência de gênero.

Ayreon é um projeto de metal progressivo e sinfônico que inverte essa ordem e fornece um paradigma ligeiramente distinto do habitual; não poupa esforços em flertar com uma série de gêneros distintos para que suas ideias ganhem em qualidade e representatividade.

The Human Equation relata o episódio de um homem apenas identificado como Me (Eu) que está em coma num hospital, após ter sofrido um acidente de carro em plena luz do dia e sem nenhum outro veículo por perto. Tais circunstâncias intrigam sua esposa Wife e seu melhor amigo Best Friend, que aguardam por reações de Me enquanto fazem vigília. O ouvinte é convidado a lentamente reconstruir a memória de Me a partir de fatos e diálogos com sentimentos personificados: reason, love, passion, fear, agony, pride e rage.

As vinte faixas são, na verdade, os vinte dias em que a história se passa. Dentro de uma só faixa é possível ouvir a tradicional sonoridade do metal associada a corais uníssonos, ecos do tipo cânone, teclados, violões, rabecas e flautas. Ao todo onze cantores interpretam cada qual um personagem em tons discursivos e diálogos típicos da ópera. As distorções e mixagens a la Pink Floyd fornecem todo o campo intimista, denso e psicológico em que a história se desenvolve. Baita álbum!

Track List
1. Day One - Vigil
2. Day Two - Isolation
3. Day Three - Pain
4. Day Four - Mistery
5. Day Five - Voices
6. Day Six - Childhood
7. Day Seven - Hope
8. Day Eight - School
9. Day Nine - Playground
10. Day Ten - Memories
11. Day Eleven - Love
12. Day Twelve - Trauma
13. Day Thirteen - Sign
14. Day Fourteen - Pride
15. Day Fifteen - Betrayal
16. Day Sixteen - Loser
17. Day Seventeen - Accident
18. Day Eighteen - Realization
19. Day Nineteen - Disclosure
20. Day Twenty - Confrontation

O álbum pode ser baixado aqui.

sábado, 12 de março de 2011

hiroshima - taste of death (1984)

Da esquerda para a direita: Hero O'Hara, Luke Powerhand,
Tony Hanover, Jake Killer e "The Quick" Pikanen

Alguns países destacam-se na arte de fazer rock pela qualidade das bandas que lá surgem. Quem nunca ouviu falar na clássica escola de heavy metal inglesa, ou a Thrash Bay Area da Califórnia, nos EUA, ou o metal extremo dos países escandinavos (em especial a Noruega), ou mesmo a qualidade em praticamente todas as vertentes advinda de terras alemãs? No entanto, um desses países potência do rock, ao meu ver, passa despercebido à maioria, sendo por muitas vezes subestimado, inclusive. Este país é a Suécia, fortíssimo, assim como a Alemanha, em várias vertentes, dos mais variados tipos - embora as bandas suecas sejam mais underground na maioria das vezes, se comparadas às bandas bávaras. Algumas bandas até conseguiram seu lugar ao sol, entre as quais a banda pop ABBA e a banda de glam rock/hard rock Europe. Mas neste post eu vou dar atenção a uma banda underground mesmo, bem da veia heavy metal: o Hiroshima.

Ainda mais complicado que achar algo sobre o Hardholz é encontrar algo sobre o Hiroshima. Sabe-se que foi uma banda fundada em 1979, em Estocolmo. Em sua formação original, contava com Tony Hanover (vocal), Hero O'Hara e Luke Powerhand (guitarras), Jake "Jouko" Killer (baixo) e Raimo "The Quick" Pikanen (bateria). Lançaram dois compactos, Soldier of the World (1983) e Rock 'n Roll Priest (1984). Os dois singles seriam aproveitados para o único disco da banda, o Taste of Death, de 1984, para o qual o post é dedicado. Depois do lançamento do disco, Raimo sai da bateria da banda, e em seu lugar entra Örjan Englin. Devido à baixa repercussão do disco, a banda encerra suas atividades em 1988.

Os integrantes têm alguns fatos bem interessantes que julgo serem relevantes: Hero O'Hara e Luke Powerhand são irmãos - o que prova que sua afinidade vai bem além dos duetos de guitarras, como no solo de Midnight Fighter, bem ao estilo de uma outra dupla de guitarristas (quase irmãos, eu diria) que fazia muito sucesso à época: sim, Dave Murray e Adrian Smith, do Iron Maiden. Além do mais, ambos são finlandeses, assim como Raimo Pikanen. Aliás, Raimo ganhou o apelido de "The Quick" (literalmente, o veloz) nas outras bandas por onde havia passado anteriormente ao Hiroshima, e dizem que ele era um baterista, de certa forma, bem cotado pelos bandas dos barzinhos - e até algumas um pouco maiores - da capital sueca. Seu substituto, Örjan Englin, muitos anos depois de findo o Hiroshima, assumiu o posto de DJ na 106.7 Rockklassiker Radio de Estocolmo, sob o codinome Dr. Rock.

Analisando brevemente o disco: um petardo do heavy metal. Eu tenho certeza absoluta que, por mais que eu ouça bandas underground dos anos 1980, eu jamais acharei um disco melhor que este - no máximo um semelhante. É impressionante como a banda conseguiu atingir as nuances mais sutis de cada extremo do heavy metal, desde o som mais poluído do Saxon até o som mais limpo do Judas Priest em princípio de carreira; de todo o pragmatismo do Tygers of Pan Tang até os duetos de guitarras fascinantes do Iron Maiden, e ainda com um espacinho para baladinhas à la Def Leppard. Disco irretocável, simplesmente.

Track List
1. Taste of Death
2. Rock 'n Roll Priest
3. Lonely Room
4. Dreamworld
5. Down On My Knees
6. Midnight Fighter
7. Touch Me
8. Escape
9. The Loser
10. Soldier of the World

O álbum pode ser baixado aqui.

sexta-feira, 11 de março de 2011

em quê se tornaram as discussões sobre música no brasil?




Numa caça às bruxas! Nisto se tornaram as discussões sobre música no Brasil, quiçá no mundo inteiro. Seria ingênuo de minha parte pedir que cada brasileiro iniciasse seu desarmamento intelectual pela língua, que falasse sobre música com menos acidez e mais desapego estilístico. Mas se até a paz é algo que em milênios a humanidade não foi capaz de aprender, minhas perspectivas partem para o desânimo.

Antes de prosseguir, ouça um trecho da entrevista de ontem do cantor e compositor Lobão ao programa Pânico, da Rádio Jovem Pan.



O mesmo sujeito que recebera uma vaia histórica, com direito a garrafadas e outras sutilezas, na segunda edição do Rock in Rio (1991), quando se achava a própria incorporação do rock nacional, destila suas críticas ao som da molecada de hoje em dia.

Lobão é um cidadão livre e tem direito à opinião própria. Muito do que ele disse reflete também a minha opinião e até meus últimos dias, se o atual estado de coisas permanecer, não negarei. Sua atitude em cadeia nacional, todavia, não deixa de lembrar aquelas subcelebridades loucas por estamparem as revistas de fofoca e observação da vida alheia que não chegam a dois reais o exemplar.

E se observar a vida alheia é algo deplorável, usar do sucesso alheio como válvula de escape é pior ainda. Lobão teve mais sucesso que os artistas de sua época pelas declarações polêmicas e marketing pessoal muito bem realizado. Que me perdoem seus fãs, mas eu sempre fui adepto da política do “para criticar, proponha ou faça algo melhor” e não conheço sequer um trabalho genial lançado por este indivíduo nos últimos tempos.

Dinho Ouro Preto, num programa comandado pelo próprio Lobão e seguindo a linha do mestre, alegara que Restart faz a banda Fresno parecer Dostoievski. OK, também acho as duas bandas carentes de ideologia e tudo o mais, o velho papo que todo mundo já conhece. Fica uma pergunta bem pessoal: quem é Dinho Ouro Preto? A mim ele também faz Bruce Dickinson parecer Franz Kafka.

Ofender os grupos e artistas de grande apelo popular virou a fórmula certeira para resgatar uma porção de fãs que partilham da mesma raiva e, de quebra, adquirir um status cult e contrário ao sistema e às instituições. E ainda dá mostras de bom funcionamento a velha tática de justificar sua escassez de ideias e trabalhos bons às custas de alguém não tão diferente de você, senão por cair nos braços do povo, vender mais e melhor que você.

Os dois artistas supracitados e tantos outros, vividos e politizados, provam que a discussão séria sobre música no Brasil acabou. Raramente vejo uma roda de jovens falando de técnica, estética, ideologia, inovação, revolução, as múltiplas e deliciosas faces que a música pode assumir na sua condição fundamental de arte.

Aqui não critico a legitimidade da liberdade de expressão, do humor negro e da opinião forte; apenas reflito na tendência abutre de saudar os antigos companheiros de espécie em voo livre, vivendo às custas da carne e sangue frescos dos cadáveres jovens. A cultura nacional fica estagnada e ninguém ganha com isso.

a proporção áurea




Como eu postei durante a apresentação do blog, não é de nosso intuito postar somente coisas relacionadas à música, embora este seja, ao menos em princípio, o nosso principal foco. E hoje fui seriamente acometido por um desejo de postar algo relacionado à outra de minhas grandes paixões - paixão essa que também compartilho com o Eduardo: a Matemática. Não sou nenhum expert no assunto, mas sei que os termos por muitas vezes empregados na Matemática são demasiado técnicos. A fim de que a mensagem possa chegar a todos (ou ao menos à maior parte) dos receptores, vou tentar abater ou simplesmente "maquiar" estes termos e fórmulas - que podem ser encontrados em um apêndice resumido no final do post. Comecemos então por uma das principais constantes matemáticas que, a meu ver, é também uma das mais belas: a proporção áurea.

Antes de qualquer coisa, a proporção áurea, razão áurea, número de ouro ou número de Phidias (em homenagem ao escultor grego homônimo, que utilizou tal número na construção do Parthenon), é uma constante real algébrica irracional denominada pela letra grega φ (Phi, ou Fi). Seu valor, aproximado em dez casas decimais, é de 1,6180339887. É amplamente encontrado pelo mundo em formas naturais, a citar: a espiral desenvolvida pelas conchas do tipo Nautilus, a razão entre a altura humana e a medida do umbigo até o chão, a razão entre o tamanho dos dedos da mão e o tamanho da dobra central até a ponta, a proporção em que diminuem o número de folhas de uma árvore à medida que subimos em sua altura, etc.

Desde a Grécia Antiga, a proporção áurea é amplamente estudada, justamente pelo fato de que é tão comum na natureza. Os gregos acreditavam que o número de ouro foi a base com que Deus desenhou todo o Universo. As construções da Grécia Antiga, das quais a mais notáveis é o Parthenon (edifício usado como templo em homenagem à Atena, a deusa da sabedoria), o utilizavam. Os egípcios, embora "coincidentemente", utilizaram a razão áurea na construção das pirâmides de Gizé. ("Coincidentemente" porque não o fizeram conscientemente, tal qual os gregos, mas por uma simples questão de estética.)

Na Arte, o número foi amplamente utilizado na pintura (como na Mona Lisa, de Da Vinci), na música (nas sinfonias de nº 5 e 9, de Beethoven), na literatura (Camões, em Os Lusíadas, dividiu a chegada à Índia com a proporção áurea), etc. Ainda atualmente é utilizada, como nas dimensões de um cartão de crédito, de um livro, de alguns jornais, de fotos reveladas, etc.

(A título de curiosidade: com exceção deste parágrafo, bem como os seguintes a este, a razão entre o número de palavras do texto e os dois primeiros parágrafos têm, aproximadamente, a proporção áurea. :) Obviamente, isso foi proposital, embora eu quase tenha acertado, sem querer - o resultado original deu algo em torno de 1,55. Espero que tenham gostado do texto. Caso tenham alguma dúvida, deixem nos comentários, que eu terei prazer em responder.)

Apêndices

1- Um dos fatos mais intrigantes da Matemática é a coincidência quase que perfeita entre o número φ e a sequência de Fibonacci. Esta consiste em começar com dois números 1 e ir somando os dois últimos termos da sequência. (Logo, os dez primeiros números seriam 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34 e 55.) A coincidência reside na razão entre o segundo e o primeiro número da soma. Conforme se deixam maiores os números, esta razão se aproxima cada vez mais, de forma que a razão entre o enésimo fator da sequência de Fibonacci e seu antecessor imediato seja exatamente igual a 1,6180339887...

2- Demonstração do cálculo do número φ

A razão áurea é definida algebricamente como

(a + b) / a = a / b = φ

Fica claro que a = bφ. Substituindo de volta na fórmula,

(bφ + b) / bφ = bφ / b

Isolando b em ambos os lados, temos

(φ + 1) / φ = φ

Multiplicando φ em ambos os lados, chegamos em

(φ + 1) = φ²

que é uma equação do tipo ax² + bx + c = 0, onde a = 1, b = -1 e c = -1. Tais equações são facilmente resolvidas através da chamada fórmula de Bháskara. (A fim de se evitar valores negativos, que no nosso caso não são interessantes, vou propositadamente omitir o lado negativo do delta.) Assim,

φ = [-b + raiz(b² - 4ac)] / 2a
φ = [1 + raiz(1 + 4)] / 2
φ = [1 + raiz(5)] / 2

Este é o número φ.

Para uma demonstração mais clara, é só procurar pela questão das malvinas, que você encontra aqui. (Créditos da demonstração: Sandra Di Flora - Blog Matemática Mania)

quinta-feira, 10 de março de 2011

the string quartet - tributes to iron maiden and queen (2003-2004)




Eis a minha primeira demonstração real de ecletismo aqui no blog. A formação de quarteto de cordas consagrada no barroco por Haydn - dois violinos, viola e violoncelo - é solicitada nestes dois simples, porém respeitáveis tributos.

Desconheço o trabalho particular de cada músico envolvido, sei apenas que são competentes e só não foram mais exigidos na técnica porque assumiram uma linha de extrema fidelidade às versões originais. Aqui talvez fosse interessante aproveitar a instrumentação clássica para algo mais autônomo e próximo de uma releitura, mas nem todo tributo é uma releitura e eu respeito isso.
As bandas homenageadas em suas melhores fases perfaziam um quinteto e isto foi bem observado no intercâmbio entre os estilos. De maneira geral, [1] os violinos simulam os solos de guitarra em glissandos (deslizes sobre a corda que promovem a passagem de um tom a outro), fraseados longos, cheios de notas curtas e com o mínimo de arcadas possíveis; [2] o violoncelo adota a rítmica aproximada da bateria usando staccatos (notas curtas e bem destacadas obtidas com golpes secos do arco sobre a corda); [3] cabe à viola a linha melódica do baixo e um suporte independente aos refrões; [4] o vocal está embutido com sabedoria na própria interação entre os instrumentos, sendo que vez ou outra alguém assume o posto sozinho.
Fiquei curioso para ouvir, nos mesmos moldes, Revelations e I Was Born to Love You.

Track List (Tribute to Iron Maiden)
1. Run to the Hills
2. The Number of the Beast
3. Two Minutes to Midnight
4. Wasted Years
5. Hallowed be thy Name
6. Powerslave
7. Aces High
8. The Trooper
9. Iron Maiden
10. Anatomy of Evil (bonus track)

Track List (Tribute to Queen)
1. Killer Queen
2. Bohemian Rhapsody
3. We Are the Champions
4. We Will Rock You
5. Fat Bottomed Girls
6. Crazy Little Thing Called Love
7. Somebody to Love
8. Play the Game
9. You`re My Best Friend
10. Another One Bits the Dust

O download do álbum pode ser feito aqui.